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O "Culto Pentecostal" que não deu certo. Parte II

Ao se chegar à eira de Quidom, porém, revelou-se a verdade, desapareceram as aparências.
A eira é um terreno liso e duro onde se limpam e se secam cereais ou legumes. Era, pois, um terreno que tinha muitos restos de cereais, muita palha, em que se poderia, como realmente ocorreu, haver o tropeço dos bois que conduziam o carro novo.
A eira de Quidom representa o momento da dificuldade, o instante de atenção e vigilância que se deve ter na caminhada.
Não se trava de nenhuma área de grande dificuldade, como uma ladeira, um vale profundo, ou algo similar. Era apenas uma eira, um terreno em que haveria algum senão, mas que não poderia se comparar a qualquer dos acidentes geográficos que, por si sós, complicam e dificultam sobremaneira uma viagem, mormente nos dias em que os fatos se deram.
Mas, numa vida superficial, numa vida de aparência, fora da direção de Deus e que prima pela comodidade e pela irresponsabilidade, qualquer eira se torna um perigoso obstáculo, um obstáculo que será intransponível.
Bem disse o Senhor, ao finalizar o Sermão do Monte, que só aqueles que ouvem e praticam as Suas palavras podem ser comparados aos que edificam suas casas sobre a rocha e que suportam os ventos, as tempestades e as correntes de águas, que são símbolos, respectivamente, das adversidades causadas pelos nossos atos, das provas de Deus e das tentações do adversário.
Os outros, que embora ouçam as palavras do Senhor mas não as praticam, disse Jesus, são como aqueles que edificam suas casas sobre a areia, néscios que sucumbirão quando vierem os ventos, as tempestades e correntes de águas.
Assim são aqueles que, deixando de lado o que manda a Palavra de Deus, preferem o carro novo, perseveram em servir a Deus ao seu modo e de acordo com os seus interesses. Edificam suas vidas espirituais sobre a areia, que é exatamente o fundamento que escolheram, a sua auto-suficiência, o evangelho de facilidades, o carro novo ao invés do peso e da responsabilidade dos varais.
À primeira adversidade, sucumbem, não resistem, porque não têm fundamento, porque não tem seguido a Palavra do Senhor.
É, realmente, preocupante se verificar, nas igrejas, que muitos não têm buscado aprimorar e os líderes em levar o povo a se aprimorar na Palavra do Senhor e na Sua doutrina.
Não há uma real disposição em se fazer um discipulado junto aos neoconversos, incutindo-lhes a sã doutrina e lhes dando alimento espiritual sadio para que possam, no dia mau, havendo feito tudo, ficar firmes.
Mister se faz que a Igreja regue o terreno, adube-o, para que a semente possa germinar e dar fruto, sem o que, inevitavelmente, o novo convertido poderá ser sufocado pelos cuidados deste mundo, por não haver profundidade em sua terra, bem como Ter arrebatada a semente da palavra do seu coração pelo inimigo ou morrer de inanição, por falta de alimento.
A quantidade, o barulho, a emoção, nada disse traz para o povo de Deus o fundamento da Palavra de Deus, o alicerce para que se enfrentem as dificuldades, a rocha, que é Cristo Jesus, que é quem deve ser formado em cada um de nós (Gl.4:9).
Quando isto não ocorre, uma simples eira, um terreno liso e duro, sem buracos, mas que contém um pouco de palha e restos de cereais, é suficiente para trazer a morte e para dar fim a toda a pseudo-espiritualidade existente.
Pois bem, bastou chegar-se a eira de Quidom, a uma primeira dificuldade, ainda que de pequenas proporções, para que os bois começassem a tropeçar.
O carro novo não resistia sequer a uma eira, a um terreno com um grau mínimo de dificuldade, assim como as inovações doutrinário-teológicas não podem resistir ao mínimo de detida meditação da Palavra, ao mínimo de argumentação, daí porque apelem sempre para a emoção, para o êxtase e fujam, desesperadamente, da exposição criteriosa e ungida da Palavra de Deus.
Bastou uma eira para que os bois, aqueles que estavam encarregados pelos comodistas, a levar a arca, que se encontrava à vista de todos no carro novo, , começassem a tropeçar.
Estivessem os levitas com seus varais, levando a arca, devidamente coberta pelo véu, pela cobertura de peles de teixugos e pelo pano azul, certamente a eira não seria problema algum para a travessia da arca rumo a Jerusalém.
Mas, ao invés de levitas, ao invés de pessoas devidamente separadas por ordem de Deus, quem estava a conduzir a arca eram bois, animais irracionais, sem capacidade de discernimento.
Triste fim este o de um ajuntamento em que a condução dos trabalhos, a condução em busca da presença de Deus fica com bois, com animais irracionais, com seres desprovidos de espiritualidade, de discernimento espiritual.
Quantos não são estes ajuntamentos, em que bois ditam as regras e a direção que se deve tomar, apesar de estarem ali líderes escolhidos por Deus, como era o caso de Davi ?
Quantos não são os movimentos que, por serem liderados por bois, por se terem tirado as responsabilidades impostas a cada crente, na primeira dificuldade, na simples eira de Quidom, tragicamente sucumbem, para escândalo e tristeza e, o que é pior, para morte de muitos ?
Entretanto, tal qual se deu em Quiriate-Jearim, ou um pouco além daquela cidade de Judá, assim se dá em muitos ajuntamentos, em muitos movimentos hodiernos, em que estão a trocar a cruz pelas facilidades, em que já não se ouve mais a série e grave palavra do Senhor: "quem quiser me seguir, tome a sua cruz e me siga".
Os bois começaram a tropeçar e o carro novo não deu mostras de que iria segurar a arca, que estava a ponto de cair no chão e, quem sabe, até quebrar, o que seria um escândalo inominável, mesmo para um povo que se conformava em alegrar-se segundo suas vontades, mesmo para quem preferia Ter seus deleites religiosos ao invés de assumir uma responsável adoração a Deus.
É neste instante que surge a figura de Uzá, aquele que, com a própria vida, levaria o rei e todo aquele ajuntamento de volta à realidade espiritual, à consciência da verdade.
Diz a Bíblia que Uzá era um dos filhos de Abinadabe(II Sm.6:3) e que, juntamente com seu irmão Aiô, guiavam o carro novo.
Muito provavelmente, ele e seu irmão tinham sido um dos principais responsáveis pela fabricação do carro novo. Portanto, era pessoa que estava intimamente ligada com esta inovação, que zelava pela manutenção das aparências e da inovação trazida para o ajuntamento.
Deveria ser, provavelmente, um levita, já que a arca teria estado sob os cuidados de seu pai durante todo o tempo em que a arca esteve em Quiriate-Jearim e, portanto, mais do que ninguém, sabia das normas e da necessidade de que a arca fosse levada nos ombros pelos levitas e não num carro novo.
Diz a Bíblia, também, que, enquanto seu irmão Aiô estava diante da arca, ou seja, à frente, procurando, muito provavelmente, dirigir os bois que levavam o carro novo, Uzá, bem ao contrário, se encontrava bem próximo ao carro novo, perto da arca do Senhor.
Estava, como bem se observa, totalmente absorvido na sua admiração pela forma mais confortável pela qual se estava a levar a arca do concerto.
Embevecido estava pela sua obra-prima, pela comodidade alcançada, pela facilidade criada. Mal podia se conter o jovem Uzá com o sucesso e o êxito daquele ajuntamento e, certamente, já sonhava com as conseqüências de seu gesto perante o rei Davi quando chegasse a Jerusalém.
Ao invés de ajudar seu irmão Aiô, que, mesmo dentro da comodidade, ainda procurou o que fazer para o sucesso da viagem, Uzá estava, mesmo, era preocupado em saciar seu ego, em demonstrar a sua auto-suficiência, era o personagem mais comprometido com o lamentável estado de coisas daquele ajuntamento do ponto-de-vista espiritual.
Caminhava praticamente ao lado da arca, colocava, para se utilizar de linguagem bem popular de nossos interioranos, "o carro na frente dos bois", visto que se preocupava muito mais em demonstrar a firmeza, a esperteza e o êxito de seu carro novo do que em servir a Deus, em cumprir a Sua palavra e, mesmo, de, pelo menos, ajudar a guiar os bois que estavam a fazer a tarefa que, de direito, deveria ser exercida pelos levitas, em especial aqueles que haviam guardado a arca por tantos anos.
Quando deixamos a visão de Deus e passamos a nos guiar por nós mesmos, passamos a ser cegos espirituais, deixamos de compreender as coisas do Senhor e nos tornamos tolos por completo, em
veredando pelo caminho da morte que, muitas vezes, é sem qualquer volta.
Uzá não surge na narrativa por acaso nem sua morte será uma fatalidade, uma demonstração surpreendente da ira de Deus. Não !
Uzá era o principal personagem, o protótipo do espírito alheio a Deus que tomara conta daquele ajuntamento, que transformara aquele "culto pentecostal" numa reunião festiva, fraterna, barulhenta, vistosa mas sem qualquer presença real do Senhor.
O povo se divertia, o povo se confraternizava, o povo se apresentava piedoso, mas, na verdade, apenas estava seguindo seu já secular caminhar de desprezo e desconsideração ao Senhor.
Naquele ajuntamento, por incrível que possa parecer, o povo apenas estava a dizer, em alto e bom som, que continuava a deixar Deus de lado, que persistia em negar ao Senhor a primazia em suas vidas e na vida da nação.
Naquele ajuntamento, ao contrário do que tanto sonhava o rei Davi, o povo não estava restabelecendo sua comunhão com Deus nem entronizando ao Senhor, uma vez, sobre Israel, mas, bem ao contrário, continuavam a colocar a sua vontade como ponto de referência, como razão de ser de suas atitudes e condutas. Como haviam rejeitado a Deus como rei nos dias de Samuel e Saul, estavam prontos a fazê-lo uma vez mais durante o governo de Davi.
Uzá estava completamente absorvido pelo carro novo e pela situação, quando vê que os bois começam a tropeçar e que a arca poderia tombar.
Que fazer, então ?
Parar o ajuntamento e avisar a Davi que se deveriam trazer os varais, cobrir-se a arca e chamar levitas para o transporte ?
De modo algum! Como retirar o brilho e o sucesso do carro novo, obra-prima de suas mãos ? Afinal de contas, a culpa não é do carro, mas, sim, dos bois que não têm capacidade para bem caminhar e do irmão Aiô que não tem competência para guiá-los!
Ajudar a Aiô na direção dos bois, para que consigam um caminho melhor nesta eira, cujo grau de dificuldade é mínimo ?
De jeito nenhum! Uzá já havia feito a sua parte, que era ter fabricado o carro novo e agora, enquanto acompanhava a arca, enquanto se notabilizava como a pessoa mais próxima de Deus em todo o ajuntamento, que Aiô faça a sua parte e bem conduza os bois que estão a tropeçar.
Mas a arca vai cair, Aiô não está bem conduzindo os bois, o escândalo pode ocorrer, o ajuntamento pode se tornar em tragédia, o carro novo pode não dar conta da sua tarefa, a comodidade e a solução obtidas podem fracassar?
Surge, então, a resposta que solucionaria o dilema e manteria as aparências? Basta que Uzá dê uma pequena ajuda, que segue a arca, que a não deixe tombar, demonstrando toda a sua pureza, todo o seu zelo, toda a sua espiritualidade, todo o seu cuidado.
Mas a arca não pode ser tocada ? Bobagem, pois nem mesmo poderia ter sido colocada a descoberto em um carro novo e o foi, com total aprovação de Deus, tanto que o ajuntamento está alegre, os hinos são entoados com perfeição e a emoção a todos contagia... e a arca foi tocada por Uzá e a verdade se revelou!
Tragédia! Ao tocar a arca, Uzá cai fulminado ao chão. O ajuntamento pára de caminhar. Apesar de toda a confusão que, naturalmente, seguiu-se a este desastre, não fez com que a arca caísse nem que os bois, antes trôpegos, assustassem-se a ponto de causarem estrago à arca do concerto.
O problema não eram os bois, não era a posição da arca, nem mesmo o carro novo. O problema era o homem, o povo de Israel que insistia em servir a Deus de qualquer maneira, segundo a sua própria vontade e desejo.
Deus não se deixou escarnecer e fulminou a Uzá, não um inocente que pagaria pelos erros de todos, mas, indubitavelmente, a pessoa que mais representava o espírito que estava dirigindo aquela festividade.
Certo pastor disse, em uma ocasião, para susto de muitos, que uma das mais extremas formas de Deus falar é através da morte. Quando tudo está a falhar, quando Deus já se utilizou de todos os modos para alertar a Seu povo e não é ouvido, lança mão deste recurso extremo, em que alguém perece para que muitos possam alcançar a vida eternal.
Embora seja palavra dura e, até certo ponto, aterrorizadora, temos de concordar com aquele homem de Deus e a passagem sobre a qual estamos a refletir é um caso concreto desta ação extrema do Senhor.
De nada havia adiantado todo o sofrimento passado por Israel desde a derrota para os filisteus nos tempos de Eli. Cem anos aproximadamente decorreram e o povo permanecia indiferente à presença de Deus em seu meio e até proporcionava uma festividade, que seria para arrependimento e mudança de atitude a este respeito, para reafirmar sua vida desregrada e seu desprezo para com a soberania divina.
Mas Deus não se comove com barulho, com cânticos, com instrumentos, com quantidade de pessoas, não se deixa impressionar por aparências.
Muito pelo contrário, o Senhor é a Verdade e não permite que ela fique oculta por muito tempo nem que o engano prevaleça indefinidamente.
Em especial, na atual dispensação, foi incisivo ao afirmar para a Igreja de que "as portas do inferno não prevalecerão contra ela" o que significa afirmar que a mentira nunca terá guarida nem sucesso no meio do povo de Deus, já que a mentira é algo muito próprio daquele que é mentiroso desde o princípio e que luta contra essa Igreja(Jo.8:44).
Assim, ainda que muitos estejam preocupados em criar carros novos para atrair multidões, saiba que a alegria, os cânticos e a demonstração de espiritualidade poderão, sim, trazer a atenção da mídia, o prestígio entre as autoridades e os políticos, mas nada disso comoverá o coração do Senhor mas, bem ao contrário, fará com que Ele se incumba de trazer à tona a verdade, nada mais do que a verdade.
Toda a alegria, toda a emoção, todos os cânticos, todos os instrumentos, toda a espiritualidade se foi após a manifestação do poder de Deus.
Eis o "culto pentecostal" que não dá certo: aquele em que a Palavra do Senhor é deixada de lado, é substituída pela inovação, pelo barulho, pela emoção carnal. Seu fim não será outro senão o da morte e da tragédia.
Li num comentário deste trecho que a morte de Uzá se deveu tão somente à circunstância de que não havia sacerdócio regular em Israel naqueles dias, que Deus estaria apenas atestando tal circunstância.
É um grande simplismo assim raciocinar-se, sendo este um entendimento bem apropriado para os inovadores, para os auto-suficientes que, ao lerem esta passagem, sintam calafrios em suas veias pelo fato de estarem, assim como Uzá, buscando carros novos que venham a substituir as suas responsabilidades na vida cristã.
Havia, sim, um sacerdócio regular em Israel, instituído que fora por Moisés ainda no deserto, como haviam regras clarevidentes a respeito de como se deveria conduzir a arca. Verdade é que Davi estava a iniciar o processo de alteração do local de culto, empresa que não pôde levar avante e que ficou ao cargo de seu sucessor, seu filho Salomão. Todavia, não há como deixar de ver, neste trecho, a falta de vontade do povo em seguir a lei do Senhor, a insistência em se manter rebelde aos mandamentos de Deus, a razão primeira para que tenha ocorrido a morte de Uzá.
As Escrituras são claras: Uzá morreu ali perante Deus. Era diante de Deus que Uzá estava em falta. Era diante de Deus que aquele ajuntamento se constituía em reunião abominável e desagradável .
Diante do rei e de todos os que ali estavam, Israel estava vivendo um dos seus principais e mais emocionantes instantes de devoção a Deus mas, para o Senhor, nada disso era o que se via, mas uma voluntária, unânime e decidida manifestação de rebeldia, de contrariedade aos mandamentos que deveriam reger o povo de Israel.
O episódio nos evoca a torre de Babel, onde também o povo em unanimidade se dispôs a desafiar a Deus e, tal como no texto que estamos meditando, Deus desceu com providência de juízo, sempre visando manter a humanidade em condições de poder chegar a aceitar o Seu amor.
De imediato, o coração de Davi se encheu de tristeza, pois era um coração conforme o coração de Deus. Davi caiu em si e percebeu que a Deus era desagradável aquele ajuntamento e que, embora suas intenções fossem as melhores possíveis, não se estava na direção de Deus.
Diz o texto sagrado que Davi temeu e se perguntou como deveria levar a arca de Deus para Jerusalém.
Esta é uma atitude de um verdadeiro servo de Deus, que se conscientiza da necessidade de ser guiado pelo Senhor em todos os seus desejos e propósitos.
Davi logo entendeu que aquele ajuntamento não estava de acordo com a vontade do Senhor, embora, para tanto, Deus tivesse de Ter falado pela dura forma da morte.
No entanto, Davi, ainda que de modo tão duro, sensibilizou-se e percebeu que toda aquela parafernália, toda aquela festividade desagradara ao Senhor e que seria necessário que se perquirisse qual o modo do Senhor.
Davi inicia um auto-exame, a fim de que pudesse fazer uma análise introspectiva, uma auto-avaliação, a fim de perceber onde havia errado. ""Lembra-te de onde caíste", diz o Senhor à igreja de Éfeso, e, então, será possível um real arrependimento e o reinicio de uma caminhada na vontade do Senhor.
Esta deve ser, sempre, a conduta do cristão. Pedro, em sua primeira epístola, claramente a isto aduz quando afirma que o crente deve deixar toda a malícia, todo o engano, todos os fingimentos, toda a inveja e todas as murmurações e, aí então, desejar afetuosamente o leite racional, não falsificado, para que possa haver o crescimento espiritual (I Pe.2:1,2).
Para que o crente possa crescer espiritualmente, para se chegar a Deus, mister se faz que nós deixemos o engano, a hipocrisia, o fingimento, que abandonemos o "fermento dos fariseus"e nos apropriemos dos "asmos da sinceridade", reconhecendo nossos erros, nossos percalços e, assim, aceitemos a doutrina sã, o verdadeiro ensinamento do Senhor, para que possamos tornar a ter Cristo formado em nós.
Somente desta forma, afirma Pedro, poderemos oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pe.2:6).
Não se pode querer agradar a Deus guiando-nos pelos nossos próprios conceitos, pelos nossos próprios parâmetros, pela nossa própria vontade. Enquanto assim agirmos, seremos rebeldes e desobedientes à Palavra do Senhor e nada obteremos do Senhor Jesus senão sua reprovação: "mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que foram destinados." (I Pe.2:7b,8).
Pelo que se pode observar, não havia outro caminho para Uzá, que havia desobedecido deliberadamente à Palavra do Senhor e que tropeçara na sua doutrina.
Ao invés do rapaz bem-intencionado, inocente e que foi abruptamente alvo da ira de Deus, como se pode até achar numa primeira leitura apressada do texto, o que vemos é a justa retribuição a um homem que, conhecedor que era da doutrina, deliberadamente dela se aparta e se constitui num dos principais personagens que transtornaram todo o intento do ajuntamento, que era o de trazer de volta ao coração dos israelitas a primazia e soberania de Deus e que o transformara, bem ao contrário, na máxima exaltação da rebeldia e da desobediência.
Há, ainda, muitos Uzás no meio do povo de Deus, homens inescrupulosos, que, com suas inovações, com seu comodismo e pensamentos, altamente atraentes e aparentemente espirituais, transtornam o espírito das reuniões do povo de Deus, desviam totalmente a sua intenção, tornando-os em ajuntamentos altamente desagradáveis ao Senhor.
Entretanto, não nos iludamos, o Senhor é o mesmo e, ainda que estejamos na dispensação da graça, Deus não se deixa escarnecer e, a seu tempo, abrirá a brecha em Uzá, transformando o palco da alegria fácil e carnal em lugar de tristeza e de conscientização de alguns.
Deus não abre roturas em meio ao Seu povo porque tenha prazer na morte do ímpio, ainda que seja ele agente deliberado do inimigo para transtornar a Sua obra e seja da natureza de Deus desfazer as obras do diabo, mas pelo Seu grande amor para com o homem, pois, através desta brecha, que aniquila as astutas ciladas do inimigo, também abre a oportunidade para o arrependimento de todo o povo.
Deus, se de um lado não preserva os lobos vorazes que se infiltram no rebanho, aqueles que deliberadamente passam a seguir o caminho de Caim, que se deixam enganar pelo prêmio de Balaão e, por isso, perecem na contradição de Coré (Jd.11); de outro, abre uma real oportunidade para que muitos temam ao Senhor e, como Davi, perguntem-se como poderão agradar a Deus e, por meio deste gesto de sincero e real arrependimento, alcancem a vida eterna.
Ao entender que não estava agradando a Deus, Davi suspendeu o ajuntamento, desistiu de levar a arca do concerto para Jerusalém e determinou que a arca ficasse na casa de um estrangeiro, o giteu Obede-Edom, numa clara demonstração de que entendera que o povo de Israel não estava em condições de ter a presença de Deus.
Era uma atitude difícil e que poderia gerar inúmeros problemas para Davi: rei recém-confirmado por todas as tribos, seu gesto poderia ser mal interpretado pelos capitães e anciãos, que poderiam se rebelar e até mesmo contestar a autoridade do novo rei.
Entretanto, Davi tinha decidido servir primeiramente a Deus e a ele somente obedecer, custasse o que custasse a sua opção.
Conscientizado pela abertura da brecha em Uzá, imediatamente reconheceu que não estava em condições de ter ao seu lado a presença do Senhor, simbolizada pela arca, nem o povo que ele esta a governar. Colocou a arca na casa de um estrangeiro e passou a procurar como poderia agradar ao Senhor.
O povo, atemorizado que estava com a morte de Uzá, também não se rebelou e aceitou a determinação do rei, aceitando, pela vez primeira, em quase cem anos, que não era um povo santo nem privilegiado, reconhecendo que não era digno da presença do Senhor.
O resultado deste ato de arrependimento, deste gesto de humilhação e reconhecimento de indignidade por Israel e pelo seu rei se fez sentir na casa de Obede-Edom.
O texto sagrado nos diz que Deus abençoou grandemente a Obede-Edom durante os três meses em que a arca esteve em sua casa.
A bênção na casa de Obede-Edom não é explicitada pelas Escrituras Sagradas, mas, certamente, alcançou todos os aspectos de sua vida e de forma bem visível e palpável, para que Israel não tivesse qualquer dúvida de que Deus, ao contrário do que acontecera no trágico ajuntamento, agora, sim, estava a aprovar a conduta e as atitudes tomadas pelo Seu povo.
Veja que paradoxo: num ajuntamento solene, formado só de israelitas, com cantores e instrumentistas, em meio a tanto barulho e pseudo-alegria, Deus não se fez presente senão para causar a morte de Uzá; agora, sem qualquer festa, em meio a temor, na casa de um estrangeiro, Deus demonstra todo Seu agrado, abençoando aquele que hospedava a arca do concerto.
As coisas de Deus são assim mesmo, fogem completamente à lógica humana, como já dissemos há pouco.
Quando há sinceridade de propósitos, reconhecimento das próprias faltas e desejo ardente de reconciliação, Deus abençoa, nem que seja o gentio, nem que seja o estrangeiro, o alheio aos compromissos com Sua Palavra, se o objetivo é mostrar ao Seu servo o Seu agrado e a conformidade com a Sua vontade.
Deus não é um ser que se ausente de nós ou que venha apenas no ferir ou nos trazer juízos, ainda que com propósito de correção e cura, mas um ser que está sempre disposto a dialogar conosco, a nos mostrar o caminho direito que devemos andar, a nos incentivar e estimular a termos uma vida de comunhão com Ele e vida de comunhão é tornar comum tudo aquilo que não só acontece em nossa vida, como também aquilo que Ele tem nos destinado a fazer.
Como temos comunhão com Deus, já não somos alguém, mas somos um com o Senhor e tudo que Ele quer de nós , ele nos faz saber, pois somos um com Ele, assim como tudo que queremos, a ele participamos, vivendo sempre segundo a Sua vontade. Este é o mistério que Jesus revelou em Sua oração sacerdotal: "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim , e eu em ti/ que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo.17:21).
É esta a unidade proposta por Jesus a cada um de nós, uma unidade de propósitos, de desejos, que nós renunciemos a uma vida própria, a uma vontade própria e passemos a desfrutar da vontade de Deus, de um querer único e comum.
Davi percebeu que, daquele modo, não poderia servir a Deus e foi buscar a presença do Senhor, buscar a Sua vontade e, aí, então, descobriu que deveria seguir a Lei, trazer levitas, sacerdotes que, com os varais em seus ombros, conduzissem a arca, assumindo a sua responsabilidade, o esforço que o Senhor requer de cada um que quer segui-lo.
E, ao perceber isto, pôde trazer, com festa realmente espiritual, a arca para Jerusalém.
Que assim também procedamos, que deixemos nossos conceitos, nossas facilidades, nossos parâmetros, que busquemos somente agradar ao Senhor e não às circunstâncias que o mundo nos oferece e, assim, certamente, poderemos fazer um " culto pentecostal" que, ao contrário do de Uzá, dê certo. Amém.