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Assembléia de Deus Missão do Brasil - Estudos Bíblicos



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A Igreja e a sua missão

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Com muita alegria, satisfação e sentimento de gratidão a Deus, damos início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, o sexto ano desde o início dos trabalhos do Portal Escola Dominical.

Este ano de 2007, também, representa o início de um novo currículo da Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) e pedimos a Deus que as modificações realizadas venham ao encontro das necessidades e das carências do povo de Deus, que precisa, mais do que nunca, aprofundar-se no estudo da Palavra de Deus, eis que, como diz o coordenador do Portal Escola Dominical, irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu, vivemos os dias previstos no Sl.11:3, não havendo o que o justo fazer senão se agarrar, com unhas e dentes, à Palavra do Senhor, pois, pela Bíblia, sabemos que só ela não há de passar (Mt.24:35; Lc.21:33).

Após termos tido um ano letivo “doutrinário”, vez que, em 2006, estudamos a doutrina da salvação através da Epístola aos Romanos(1º trimestre-comentarista: pastor Eliezer Lira), as falsas doutrinas através de heresias e modismos (2º trimestre- comentarista: pastor Esequias Soares), as doutrinas bíblicas pentecostais em celebração ao centenário do avivamento da rua Azusa (3º trimestre- pastor Antonio Gilberto) e as doutrinas bíblicas fundamentais (4º trimestre – pastor Claudionor Correa de Andrade), iniciamos o novo ano com um tema de Teologia Prática, intitulado “a Igreja e a sua Missão”, onde o comentarista, o pastor Elienai Cabral, procura abordar a doutrina da Igreja (Eclesiologia), mas sob o ângulo prático, ou seja, quais devem ser as ações, as atitudes, as práticas que a Igreja deve ter em meio ao mundo em que vivemos.

Desde já agradecemos a Deus por ter iluminado a CPAD a iniciar o seu novo currículo com um tema tão necessário para os nossos dias. Notamos que, infelizmente, muitos crentes estão “perdidos na casa do Pai”, ou seja, estão completamente alheios ao significado de pertencer à Igreja, perderam totalmente o foco e a razão de ser da existência da Igreja sobre a face da Terra.

Embora seja um organismo vivo, o corpo de Cristo (ICo.12:27a), a universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus (cfr. Hb.12:23a), a Igreja se apresenta, sobre a face da Terra, como uma reunião de igrejas locais, grupos sociais que têm tarefas a cumprir enquanto Jesus não volta para os arrebatar e os levar para estar para sempre com Ele (Jo.14:3; I Ts.4:16,17). Além do mais, a Igreja é cada um de nós, seus membros em particular (I Co.12:27b), de sorte que cada um dos salvos tem, também, obrigações a cumprir perante o seu Deus enquanto Jesus não volta ou não somos chamados para a eternidade. Cada crente tem uma carreira que lhe está proposta (II Tm.4:7; Hb.12:1,2), mas, lamentavelmente, temos percebido que muitos, em vez de olhar para Jesus e de seguir os Seus mandamentos, como era de rigor (Jo.15:14), estão dispersos, profundamente adormecidos, presos às coisas desta vida e transformando sua vida espiritual em meros compromissos sociais, em hábitos e costumes vindos de seus pais ou avós, completamente alheios ao momento que vivemos, esquecidos de que estamos mais pertos da salvação do que quando aceitamos a fé (Rm.13:11).

Por isso, mais do que oportuno pararmos e refletirmos quais as tarefas, quais as incumbências que o Senhor Jesus, como cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), deixou para a Igreja, Igreja que, como vimos, é cada um de nós e verificarmos se as estamos cumprindo a contento ou se temos sido tomados pelo sono da negligência, pelo perigoso torpor da inatividade e da comodidade.

Neste trimestre, teremos a chance de entender o que é a Igreja, segundo o modelo bíblico, como ela deve funcionar, o que ela deve fazer e porque e para que nós nos reunimos em igrejas locais até a volta do Senhor.

Após uma lição introdutória, que nos fará lembrar as linhas mestras da doutrina bíblica a respeito da Igreja (lição 1), passaremos a estudar cada uma das principais tarefas deixadas pelo Senhor aos salvos, desde a integração e educação dos novos convertidos, pelo batismo nas águas (lição 3) e pelo discipulado (lição 4), até a missão dinâmica da Igreja, que é a promoção do avivamento espiritual contínuo a seus membros (lição 13), passando pela missão de adoração (lição 5), pela missão profética (lição 6), pela missão ética (lição 7), pela missão social (lição 8), pelo aconselhamento cristão e sua missão auxiliadora (lição 9), pela visitação e sua missão consoladora (lição 10), pela comunhão dos santos e sua missão conciliadora (lição 11) e pela preservação doutrinária e sua missão conservadora (lição 12).

Veremos, assim, que a Igreja é um povo dotado de uma missão, entendida missão pelo seu significado que é, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “incumbência que alguém deve executar a pedido ou por ordem de outrem; encargo”; “comissão ou conjunto de pessoas a quem se confere uma tarefa, freq. em outro local ou país”; “dever a cumprir; obrigação”, sem se esquecer do próprio significado da palavra latina “missio”, que é “ação de ir, partir, soltar, largar, lançar, atirar”.

Pelo que percebemos, portanto, Jesus, ao criar a Igreja, não pensou na formação de grupos sociais onde as pessoas apenas se confraternizassem e sentissem a presença de Deus em suas vidas, rotineira e habitualmente, algumas vezes por semana entre quatro paredes, mas, bem ao contrário, criou grupos de homens e mulheres que assumissem o compromisso de cumprirem deveres, obrigações, de executar ordens e tarefas deixadas pelo próprio Jesus para que as fizessem. Para tanto, o Senhor, inclusive, nos deixou, nos soltou, nos largou como ovelhas no meio de lobos (Mt.10:16).

Ao redor do mundo, vemos que, cada vez mais, as pessoas tomam consciência das instituições da sociedade e passam a reclamar dos seus governos e dos segmentos sociais seu efetivo funcionamento, não aceitando que as instituições sejam apenas lindas e eficientes no papel das constituições, das leis e dos programas de governo, exigindo, por isso, estabelecimentos de saúde que cuidem dos doentes, escolas que tragam real educação e formação a seus filhos, políticas que proporcionem reais melhoras na condição de vida das pessoas.

Enquanto isso, o povo de Deus, cada vez mais, conforma-se a um distanciamento cada vez maior entre o modelo bíblico de Igreja, entre o que a Bíblia diz que a Igreja deve fazer e a triste e dura realidade que contemplamos, em que as igrejas locais passam, cada dia mais, a ser apenas aglomerados de pessoas, quando não verdadeiros clubes sociais bem-intencionados mas sem qualquer relevância no meio social em que estão a viver que, não raras vezes, está a influenciar estes ambientes eclesiásticos ao invés de ser influenciado por eles.

O torpor é tão grande que não faltam aqueles que, por causa deste “statu quo” deprimente, chegam a pregar o “fim da igreja” e a defender “reformas” onde a figura da igreja é substituída por outras instituições (“células”, “grupos menores”, “grupos de estudos” etc.), ou, então, em que as igrejas passam a ser tão somente empresas arrecadadoras de recursos materiais e humanos, que nem sempre servem às tarefas delineadas pelas Escrituras.

Que, ao final deste trimestre, cada aluno e professor da Escola Bíblica Dominical, possa ter real consciência do que é ser Igreja e que, não somente saiba, mas passe a ser um membro ativo, um efetivo e atuante missionário na obra do Senhor, porque “…a seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros.” (Mt.9:37b).

B) LIÇÃO Nº 1 – A IGREJA DE CRISTO

A igreja, enquanto povo de Deus, tem tarefas a cumprir na face da Terra, enquanto Jesus não volta para buscá-la.

INTRODUÇÃO

- Ao estudarmos as doutrinas bíblicas fundamentais no trimestre passado, na lição 10, estudamos a respeito da doutrina da Igreja. Como faz pouco mais de um mês que tivemos tal estudo, seria até certo ponto redundante repisarmos aqui os pontos básicos da doutrina da Igreja. Por isso, dentro até do espírito prático de que se reveste o estudo deste trimestre, embora tenhamos de enfrentar, nesta lição, alguns pontos básicos da Eclesiologia, desde já convidamos os leitores a reler a referida lição.

- A Igreja é o novo povo de Deus, o povo formado por judeus e gentios que, pelo sangue de Cristo, passam a ter comunhão com Deus, perdoados que estão dos seus pecados, um povo espiritual, assim como o seu Senhor, um povo destinado a se reunir aos santos do passado para povoar a Nova Jerusalém, a Jerusalém celeste, onde se reeditará a comunhão eterna e perfeita que havia entre Deus e a humanidade antes que o pecado entrasse no mundo (Ap.21:3).

I – A IGREJA É UMA NAÇÃO

- As Escrituras revelam-nos que, com a vitória de Cristo sobre a morte e o inferno, forma-se um povo especial, zeloso e de boas obras(Tt.2:14), a saber, a Igreja. Ao nos mostrar que a Igreja é um povo, a Bíblia já nos mostra que a Igreja difere dos outros dois povos que existem sobre a face da Terra, ou seja, os gentios e os judeus.

- Dizer que a Igreja é um povo, uma nação (I Pe.2:9), é algo muito significativo, pois as Escrituras mostram, desta maneira, que a Igreja é diferente de tudo quanto já existia no mundo quando de seu surgimento. Além do mais, ao considerar a Igreja como um povo, Deus distingue a Igreja seja dos gentios, seja dos judeus (I Co.10:32).

- Ser uma nação representa ter elementos próprios de uma nação. Quando analisamos os estudos científicos sociais (sociologia, antropologia, política, direito, entre outros), vemos que uma nação se identifica como sendo “…agrupamento político autônomo que ocupa território com limites definidos e cujos membros, ainda que não necessariamente com a mesma origem, língua, religião ou raça (como fazia crer um conceito mais antigo), respeitam instituições compartidas (leis, constituição, governo)” (Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa).

- Ora, para que se tenha uma nação, faz-se preciso, em primeiro lugar, que se tenha um grupo de pessoas. Ora, a Igreja é um conjunto de pessoas, a saber, o grupo de pessoas que tiveram suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro (Ap.22:14), que não são estrangeiros nem forasteiros, mas cidadãos legítimos desta nação (Ef.2:14-19).

- Em segundo lugar, para que se tenha uma nação, faz-se mister que o grupo de pessoas tenha autonomia política, ou seja, tenha um governo próprio e que seja independente de qualquer outro grupo, que tenha as suas próprias leis. É exatamente esta a situação da Igreja, visto que possui uma cabeça, que é Jesus (Ef.1:22; 5:23), seguindo única e exclusivamente a Seus mandamentos (Jo.15:10-17; At.5:29; I Jo.2:3-8).

- Em terceiro lugar, para que se tenha uma nação, é necessário que haja um território com limites definidos. Nisto reside a grande diferença da nação que é a Igreja da dos gentios e da dos judeus. A Igreja tem como território o “reino de Deus”(Mt.21:43; Jo.3:5), que não é deste mundo (Jo.18:36), mas, sim, os “lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3; 2:6). Por isso, em toda a parte, em todo o lugar, em todas as nações, a Igreja estará presente até que venha o fim (Mt.24:14).

- Em quarto lugar, a Igreja é uma nação porque seus membros, embora não tenham a mesma origem, língua, religião ou raça (Ef.2:11-14), ao crerem em Jesus Cristo, passaram da morte para a vida (Jo.5:24; I Jo.3:14) e, por isso, compartilham das mesmas instituições, ou seja, têm a mesma conduta de vida, as mesmas leis, porque observam aquilo que Jesus lhes mandou, devendo, por isso, desempenhar tarefas que lhe foram determinadas pelo Senhor.

- Seremos discípulos do Senhor se cumprirmos os Seus mandamentos (Jo.15:8,14,16) e, por isso, os “deveres cívicos” dos membros em particular desta nação (I Co.12:27b), têm de ser rigorosamente observados, se não quisermos perder a cidadania desta nação (Mt.25:26-30).

- É precisamente o rol destes “deveres cívicos” dos membros da nação chamada Igreja que estudaremos neste trimestre, a fim de que possamos ser achados, pelo Senhor, servos bons e fiéis e, assim, como bons cidadãos dos céus na Terra, possamos ser achados dignos de entrar, com o Senhor, na cidade celeste pelas portas (Sl.15). Antes, porém, de verificarmos quais são os “deveres cívicos” dos cidadãos da nação chamada Igreja, é preciso que saibamos o que a Bíblia denomina de “Igreja”.

II – A IGREJA UNIVERSAL E A IGREJA LOCAL

- A palavra “igreja” surge, pela vez primeira, nas Escrituras, no evangelho segundo Mateus (Mt.16:18), quando é declarada pelo próprio Jesus que, assim, revela o “mistério de Cristo”, como o apóstolo Paulo chamou a “igreja” na Epístola aos Efésios. É a palavra grega “ekklesia” (εκκλησια), cujo significado é “reunidos para fora”, “chamados para fora”. A palavra “ekklesia”, porém, já havia sido utilizada na Versão Grega do Antigo Testamento (a chamada Septuaginta) para traduzir a palavra hebraica “qahal”, que as nossas versões em língua portuguesa costumam registrar como “congregação”, nome pelo qual era conhecida a reunião do povo de Israel, principalmente no tempo da peregrinação no deserto, quando Moisés costumava chamar todo o povo para algumas reuniões solenes à frente do tabernáculo que, por isso mesmo, era denominada de “tenda da congregação” (Nm.10:1-3).

- Notamos, pois, de início, que a palavra “igreja” fala de uma “reunião”, ou seja, um grupo de pessoas. Igreja não é um indivíduo, não é uma pessoa solitária, mas, sim, um grupo de pessoas, um conjunto de pessoas. Desta forma, ficamos sabendo, já pela etimologia da palavra, que a salvação proporcionada por Jesus Cristo cria um novo grupo de pessoas, um novo povo. Não se pode, pois, biblicamente falando, ser salvo e permanecer isolado, solitário na vida sobre a face da Terra. Este novo povo, esta “igreja”, vem, portanto, realizar, concretizar aquilo que Israel, a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos” (Ex.19:5,6) era apenas uma figura, um símbolo, uma sombra (Hb.10:1).

- Mas “igreja” não é apenas uma “reunião”, mas é o conjunto dos “reunidos para fora”, ou seja, daqueles que foram chamados, convocados, para sair do lugar onde estavam, da sua habitação, como, aliás, acontecia toda vez que Moisés tocava as duas trombetas de prata no deserto, sinal de que todo o povo deveria sair das suas habitações e comparecer até a frente do tabernáculo. A “igreja”, pois, não é um povo que se formou por vontade própria, mas que foi resultado de um chamado, de uma ação divina. Por isso, Jesus diz que edificaria a Sua igreja e o apóstolo Paulo a denomina de “lavoura de Deus” e “edifício de Deus” (I Co.3:9). A igreja não é uma criação humana, mas, sim, divina, é algo que se construiu pela vontade do Senhor. É uma “reunião” que não é obra de homem algum, mas do próprio Deus.

- A igreja não é uma reunião a esmo, sem propósito nem tampouco lugar. A igreja é o conjunto dos “reunidos para fora”, ou seja, é um povo que está “fora”, que se encontra em um lugar distinto e diferente do dos demais povos. Ora, sabemos que a humanidade, por causa do pecado, encontra-se longe de Deus (Pv.15:29; Is.46:12; Mc.7:6), mas, quando aceita o chamado do Senhor, crendo em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, pelo sangue de Cristo deixa de ficar longe e passa a estar perto do Senhor (Dt.30:14; Sl.145:18; At.2:39; Ef.2:13,14). Por isso, a igreja é formada por aqueles que estão “fora” do pecado, “fora” do mundo, “fora” das trevas. Há, portanto, uma verdadeira oposição entre a “igreja” e o “mundo”.

OBS: “…O modo de vida que Deus exige contradiz o modo de vida dos homens, os valores se contrastam: o do Reino, é eterno e o terreno, temporário. Portanto, se você deseja ser um cidadão do Reino de Deus, esteja preparado para contradizer a ética dos homens, esteja pronto a dar enquanto os outros tomam; a amar, enquanto os outros odeiam; a ajudar, enquanto abusam; abra mão dos seus direitos em benefício dos outros e, no Reino, receberá o que Deus reservou para você.…” (BARRETO, Hermes. O maior sermão do mundo: a relevância do caráter cristão, p.16).

- Não é por outra razão que a “igreja” é denominada pelos estudiosos como a “agência do reino de Deus na Terra”, precisamente porque é se distinguindo dos demais homens, saindo para “fora do mundo” que se passa a pertencer a ela, o que nos faz lembrar as palavras de Jesus a Nicodemos a respeito do novo nascimento, sem o qual não se pode ver nem entrar no reino de Deus (Jo.3:3,5). A igreja é um povo que se encontra na face da Terra mas que pertence a um reino que não é deste mundo (Jo.18:36 “in initio”).

- Este primeiro significado de “igreja” é o que se chama, também, de “igreja universal”, entendida esta como a reunião de todos os homens que creram em Cristo em todos os tempos, a partir da obra redentora na cruz do Calvário, a “universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23a), ao “corpo de Cristo” (I Co.12:27; Ef.4:12), a “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (I Pe.2:9), o conjunto de todos os que creram em Jesus Cristo ao longo da história e que se reunirá, pela vez primeira, quando do arrebatamento da Igreja, os quais serão apresentados ao Pai pelo Filho com as seguintes palavras: “Eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus me deu.”(Hb.2:13 “in fine”).

- Mas, além deste significado primeiro da palavra “igreja”, também encontramos um outro significado nas Escrituras, notadamente a partir do livro de Atos dos Apóstolos, quando nos deparamos com a chamada “igreja local”, ou seja, a igreja que se encontra em um determinado lugar, significado este que surge, pela vez primeira, em At.8:1, quando se fala na perseguição que se iniciou contra “a igreja que estava em Jerusalém”, para, logo em seguida, dizer que os membros desta igreja foram dispersos, com exceção dos apóstolos, passando a pregar a Cristo em todos os lugares, começando a narrativa por Samaria, para onde fora Filipe. Neste significado, encontramos a palavra “igreja” no plural, como se lê, por exemplo, em At.9:31, que fala das “igrejas em toda Judéia, e Galiléia, e Samaria”.

- A “igreja local” nada mais é que um conjunto de pessoas que dizem crer em Jesus Cristo e que professam a Sua doutrina e que se encontram numa determinada localidade. É uma reunião de pessoas que, chamadas por Deus, passam a obedecer às Escrituras e aos ensinos do Senhor Jesus, e, por isso mesmo, pregam a Cristo e ensinam a Palavra de Deus a todos quantos vivem naquele determinado lugar. A “igreja local”, portanto, é um grupo social, uma reunião de pessoas, uma partícula da “igreja universal”, do “corpo de Cristo”.

- O crescimento da igreja, a evangelização, o cumprimento do “ide” de Jesus fez com que a igreja, o corpo de Cristo, passasse a ser maior do que a “igreja local”, que, era, então, restrita a Jerusalém (ainda que, em verdade, desde o dia de Pentecostes, que é o início da evangelização desta dispensação, já tenhamos pessoas que tenham aceitado a Cristo e não tenham ficado em Jerusalém, vez que estavam na cidade apenas para aquela festividade). Passou a haver muitas “igrejas”, cada uma em um local, em um lugar, mas todas unidas espiritualmente pela comunhão com o único e verdadeiro Deus, pelo Espírito Santo que os mantinha em unidade com o Pai e o Filho.

- Tem-se, portanto, na Igreja, que é o Corpo de Cristo, a reprodução da própria dupla natureza que encontramos em Cristo Jesus e que já foi objeto de nosso estudo neste trimestre. Assim como Jesus é homem e Deus simultaneamente, sendo uma unidade e uma diversidade a um só tempo, também o Seu corpo, isto é, a Igreja, por Ele edificada, é, ao mesmo tempo, uma unidade, vez que se trata de o corpo de Cristo, o povo adquirido, a nação santa, mas também é uma pluralidade, pois são várias as igrejas, cada uma em um determinado lugar, em um determinado local. O único povo de Deus apresenta-Se sob muitas formas, demonstrando que o único Deus (Rm.16:27; I Tm.1:17; Jd.25) é, também, multiforme (Ef.3:10; Hb.1:1; I Pe.4:10).

- Deus, que criou o homem como um ser social (Gn.2:18), providenciou para que esta unidade espiritual desde já instaurada pelo perdão dos pecados e pela salvação em Cristo Jesus não se mantivesse apenas como uma nação espiritual, pois isto seria insuficiente para a obra da evangelização e do aperfeiçoamento dos santos, tratando de estabelecer que a vida espiritual sobre a face da Terra, até a chamada individual de cada um para a eternidade, ou o arrebatamento da Igreja, com o término desta dispensação, se desse por meio da criação de um grupo social, onde os homens pudessem uns aos outros ajudar na dura e espinhosa jornada da fé: a “igreja universal” depende, pois, da “igreja local” para chegar, em bom termo, à sua “inauguração”, o que se dará no dia do arrebatamento da Igreja.

- Vistos estes dois conceitos de igreja, resta-nos ver o que a Bíblia tem a dizer sobre a origem da Igreja. Quando ela surgiu? Quando ela foi concebida? Pois bem, assim como a salvação estava prevista desde antes da fundação do mundo, de igual modo a igreja já estava estabelecida por Deus ainda antes que o mundo existisse. A igreja foi o “…mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são co-herdeiros e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.” (Ef.3:4-6). A igreja era o grande mistério de Cristo que só foi revelado pelo próprio Senhor quando fez a famosa “declaração de Cesaréia”, quando afirmou que edificaria a Sua igreja e as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18).

- A igreja, portanto, é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja. Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida. No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer.

OBS: Diante de tantos exemplos históricos, relatemos dois episódios elucidativos desta realidade. O imperador romano Juliano (331-363, imperador de 361 a 363) perseguiu impiedosamente os cristãos, depois que os cristãos já haviam sido reconhecidos por Roma, tendo ele mesmo abandonado o Cristianismo. Pouco antes de morrer, numa campanha militar em 363, é dito que exclamou em alta voz: “venceste, ó Galileu”. Na China comunista, os cristãos foram impiedosamente perseguidos e toda obra missionária naquele país foi impedida totalmente. Com a abertura do regime a partir de 1979, pensou-se que o Cristianismo estaria dizimado naquele país e, para surpresa de todos, o número de cristãos no período difícil do governo de Mão-Tsé-Tung (1947-1979), dobrou naquele país. Ninguém pode prevalecer contra a igreja do Senhor Jesus!

- Concebida ainda antes da fundação do mundo, como primeiro momento da congregação de tudo em Cristo Jesus (Ef.1:10), a Igreja foi revelada por Jesus na famosa “declaração de Cesaréia”. No entanto, somente teria existência própria a partir do instante em que Jesus subiu aos céus, assentando-Se à direita de Deus, visto que a igreja é “o corpo de Cristo”. Enquanto Jesus não ascendeu aos céus, não poderia haver uma verdadeira “igreja”, visto que Jesus ainda estava com os discípulos. A partir do instante, porém, em que ascendeu aos céus, passamos a ter a Igreja, Igreja que iniciaria a Sua missão evangelizadora a partir da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, ato inicial da dispensação da graça e de apresentação da Igreja ao mundo. Assim, podemos dizer que a Igreja começa efetivamente no dia de Pentecostes, visto que a Igreja nada mais é que “…a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe.2:9) e isto só se deu a partir do dia de Pentecostes.

OBS: O fato de o início da atividade da Igreja ter se dado no dia de Pentecostes, não quer dizer que ela tenha sido inaugurada neste dia, como bem atesta o pastor Osmar José da Silva, cujo pensamento ora transcrevemos: ““…A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular. Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo: Hebreus 2.12:’…Eis-Me aqui, e aos filhos que Deus Me deu.’ Então haverá festa nos céus, todas as hostes celestiais se alegrarão juntamente com todos os seus servos.…” (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).

III – A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA

- Jesus, ao revelar o Seu mistério, isto é, a Igreja, disse que a edificaria. Assim, logo após a revelação deste novo povo de Deus, Jesus nos indica que se tratava de algo que era organizado, ordenado, de algo que tinha uma estrutura, sem o que não se trataria de uma “edificação”. A Igreja é o “edifício de Deus”, é a “lavoura de Deus”, o “corpo de Cristo”, “a coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15), a “nação santa”, expressões todas que indicam haver uma ordenação, uma estrutura, uma ordem nesta entidade criada pelo próprio Deus, que, como sabemos, é um Deus de ordem, não de confusão (I Co.14:33).

- A primeira coisa que observamos com relação à ordem, à estrutura da Igreja é de que o edificador é o próprio Jesus. “Edificarei a Minha Igreja”, disse o Senhor Jesus. Vemos, pois, que a igreja não é algo que deva ser estruturado e moldado segundo os caprichos, as habilidades, palpites, experiências ou sabedoria humanos, mas, sim, segundo o modelo traçado pelas Escrituras Sagradas. Nos dias em que vivemos, onde tem tido grande avanço a ciência da administração, muitos têm sido tentados a implantar e criar “modelos”, “visões”, “estratégias” e tantas outras “inovações” para que se tenha uma igreja bem sucedida, exitosa e que sempre cresça. Tenhamos muito cuidado com tudo isto, pois a Bíblia nos ensina que a Igreja tem como edificador a Jesus Cristo e a Ele só. Ele não disse que a igreja era dEle e de todos os Seus discípulos. Sua expressão é bem clara: “Edificarei a Minha igreja”. Por isso, muito atual e oportuna a consideração feita pelo pastor Ariovaldo Ramos num artigo que deve ser lido por todos, onde afirma que muitos têm “tomado” a igreja de Jesus para si e que, por isso, o Senhor bem pode exclamar a tais líderes: “Devolvam a Minha igreja”.

OBS: “…Ouvi, certa feita, que um preletor, convidado para falar a pastores, começou sua pregação dizendo ter um recado diretamente de Cristo, e que o recado era: Devolvam a minha Igreja! difícil julgar algo assim, teria mesmo o recado vindo do Senhor? Pode ser que não, porém, para mim, faz todo o sentido ter vindo dele, pois, é assim que eu sinto a igreja hoje, como usurpada de Cristo Jesus. Talvez isso não tenha nada a ver com você, em princípio, mas pense na Igreja que está no Brasil como um todo. É a sua igreja.…” (RAMOS, Ariovaldo. Devolvam a Minha igreja. Disponível em: http://www.invsc.org.br/Artigos/devolvam_minha_igreja.htm Acesso em 19 out. 2006).

- A segunda observação a ser feita é a de que, além de ser o Edificador, Jesus é o fundamento da Igreja. Na própria “declaração de Cesaréia”, Jesus nos mostra que Ele é o fundamento da Igreja, ao dizer que “sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt.16:18). Quem é esta pedra? Esta pedra é o próprio Cristo, como nos indicam o texto, o contexto interno e a correlação com os demais textos bíblicos. Senão vejamos.

- O texto refere-se a um diálogo entre Jesus e Pedro, logo após Pedro ter dito que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo. Diante desta declaração, Jesus disse que aquilo havia sido uma revelação do Pai a Pedro e, acrescentando a revelação, disse que Seu discípulo era Pedro, ou seja, o nome que Jesus havia dado a Pedro tinha como significado “pedra”, mas que sobre “esta” pedra, ou seja, Jesus Se refere a Si próprio, pois usa o pronome demonstrativo “esta”, que indica a coisa ou a pessoa mais próxima da pessoa que fala (e a pessoa mais próxima de Jesus naquele instante, que era quem estava a falar, não era ninguém a não ser o próprio Jesus). Assim, o próprio texto indica-nos que Jesus Se referia a Si mesmo quando indica qual seria a pedra fundamental da Igreja.

- Mas, fora a interpretação gramatical do versículo, temos o próprio contexto interno, ou seja, a relação com os demais versículos da passagem bíblica. Toda a passagem gira em torno da identidade de Jesus. Jesus pergunta a Seus discípulos quem os homens dizem ser o Filho do homem. Depois dos relatos advindos da população contemporânea de Jesus, o Senhor quer saber a opinião dos discípulos e Pedro, então, declara que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Jesus, então, adverte que aquilo não era algo que Pedro tivesse obtido pela sua própria inteligência, mas uma revelação divina e a complementa dizendo que o nome “Pedro” que Ele mesmo havia dado ao Seu discípulo era também um símbolo, uma indicação, revelando, então, que a verdadeira pedra, que era Ele próprio, além de ser o Cristo, seria o fundamento de um novo povo, a Igreja, “o mistério de Cristo”. O contexto fala-nos da identidade de Cristo e, portanto, esta pedra só pode ser o próprio Jesus, pois é este o assunto que está sendo tratado na passagem bíblica.

- Mas não bastassem estas evidências textuais, o fato é que as Escrituras, mesmo, em outros textos, mostram que o fundamento da Igreja é Jesus Cristo e nunca o apóstolo Pedro. O primeiro a nos indicar isto é o próprio Pedro, que, por ser quem estava dialogando com Jesus, é o mais apropriado intérprete das palavras do Mestre. Pedro, bem ao contrário dos romanistas, tendo ouvido o que Jesus falou, ensinou, anos depois, que o fundamento da Igreja é Jesus: “E chegando-vos para Ele — pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós, também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo…” (I Pe.2:4,5). Pedro, portanto, confirma que a pedra, o fundamento da Igreja é Jesus.

- O apóstolo Paulo também caminha no mesmo sentido, ao mostrar que o fundamento da Igreja é Jesus: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” (I Co.3:11). Dúvida alguma, pois, pode haver quanto ao verdadeiro fundamento da Igreja. A verdadeira Igreja, pois, não tem outro fundamento a não ser Jesus Cristo.

- Mas, além de fundamento, Jesus é, também, a cabeça da Igreja, ou seja, o Seu governante, o Seu rei, o Seu comandante (Ef.1:22; 5:23). Jesus foi constituído Senhor sobre todas as coisas (Mt.28:18; Rm.14:9) e não deixaria de sê-lo com relação à Sua Igreja, que Ele comprou com o Seu próprio sangue (At.20:28). Tendo criado a Igreja, nada mais natural que seja o seu Senhor, o seu Rei, o seu Governante. Por isso, todos os membros da Igreja, por maior autoridade que tenham, não passam de ministros de Jesus, ou seja, de Seus servidores (Mt.20:25-28; Mc.10:34-37; Jo.13:13-17;Ef.3:7).

OBS: As versões mais novas das Escrituras em língua portuguesa têm utilizado a expressão “o cabeça da Igreja” ao invés da expressão “a cabeça da Igreja” que constava das versões mais antigas. Deploramos esta modificação, pois não corresponde a uma correta tradução. A expressão “o cabeça” tem a conotação de “líder rebelde”, de “líder de revolta” e, evidentemente, não é este o significado que as Escrituras trazem a respeito de Jesus diante da Igreja. Ele é o líder legítimo e natural da Igreja. Além do mais, a expressão “a cabeça” está em perfeita consonância com a figura da Igreja como “corpo”, que é encontradiça e predominante na epístola aos efésios, onde aparecem as duas referências de Cristo como “cabeça da Igreja”.

- Por ser a cabeça da Igreja, é nas mãos do Senhor Jesus que está o governo da Igreja, o comando, a palavra final. Por isso mesmo a Bíblia nos diz que é Ele quem constitui os ministros na Igreja (Ef.3:7; 4:11), sendo este, aliás, o sentido do ensinamento de que os ministros são “chamados por Deus”, constituídos por “vocação” e não por “formação acadêmica”, ensino este, aliás, que foi deturpado para um anti-intelectualismo que, durante muitos anos, foi o principal e equivocado “diferencial” entre os pentecostais e os evangélicos ditos tradicionais. Evidentemente que não tem qualquer respaldo bíblico o ensino de que o ministro é fruto de uma formação acadêmica, de que os “seminários teológicos formam ministros”, mas, também, não há qualquer amparo bíblico para se dizer que o ministro não deve ter formação alguma, pois é um “chamado de Deus”. Quando alguém tem chamada de Deus, é vocacionado para o ministério, deve, sim, aprimorar seus conhecimentos e melhor se preparar para exercer o ministério. Deus não só chamou como bem preparou Moisés e Paulo, por exemplo.

- Jesus não delegou a pessoa alguma a liderança da Igreja. Diz a Escritura que Ele é a cabeça da Igreja. Mandou-nos o Espírito Santo, Deus como Ele, para estar conosco e em nós, sendo esta Divina Pessoa responsável pela importante tarefa de não nos deixar esquecer o que foi anunciado pelo Senhor Jesus (Jo.16:13,14). É, pois, na condição de Revelador de tudo quanto o Filho quer fazer na Sua Igreja, que o Espírito seleciona homens para o ministério (At.13:2) ou prescreve orientações para a Igreja (At.15:28). Assim, se nem a uma Pessoa Divina é dada autonomia para dirigir a Igreja do Filho do Deus vivo, como ousam alguns homens querer arrogar para si a liderança da Igreja?

OBS: Não falemos do Papado, que se arroga o direito de ser “a cabeça visível da Igreja”, como se fosse possível a Igreja ter mais de uma cabeça, ou dos Presidentes mórmons, que se arrogam o título de Profetas e detentores atuais do Sumo Sacerdócio, ou, ainda, do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Falemos dos “pastores-presidentes”, “apóstolos”, “querubins”, “anjos de fogo” e “bispos” que têm querido dominar o rebanho de Deus nos nossos dias, misturando suas vaidades, lascívias, ambições políticas e tantas outras coisas com a Palavra de Deus e buscando uma autoridade sobrenatural para impor suas sandices por sobre os servos do Senhor. Vigiemos, estamos nos últimos dias, onde proliferam estes falsos cristos, falsos apóstolos e falsos profetas a tentar nos levar com eles para o fogo do inferno.

- Jesus estabeleceu na Igreja um governo, de modo que a existência de um governo na igreja(e tal governo só pode ser na igreja local) não se constitui em invenção humana nem em distorção doutrinária, mas no estrito cumprimento do modelo bíblico prescrito pela cabeça da Igreja. Por isso, se o “mandonismo humano” não tem respaldo das Escrituras, também não tem guarida na Palavra de Deus outras iniciativas dos nossos tempos de um verdadeiro “anarquismo cristão”, que defende um modelo de igreja onde não haja governo algum, onde “todos são iguais”, onde “não haja ministério” nem qualquer disciplina ou ordem de qualquer natureza. Isto nada mais é que afronta à Palavra de Deus, verdadeira rebeldia, rebeldia esta que as Escrituras dizem ser do mesmo valor que o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23).

OBS: Por isso, sem qualquer sentido o “localismo” defendido por Watchmann Nee, que tem angariado tantos adeptos na atualidade e cuja literatura perniciosa tem encontrado guarida em nossas livrarias e editoras. Também se encontram dentro desta distorção iniciativas como o gedozismo e suas variações no movimento celular.

- Neste governo, tem papel principal os apóstolos (Ef.4:11), que foram os “enviados” por Jesus para iniciar a pregação do Evangelho em todo o mundo, após o devido revestimento de poder. As Escrituras dão a estes homens uma posição de proeminência. O apóstolo Paulo afirma que os crentes são edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra da esquina (Ef.2:20). Na visão que teve da santa cidade, João revela que o muro da cidade tinha doze fundamentos e os nomes deles eram os doze apóstolos do Cordeiro (Ap.21:14). Em Atos, vemos que a igreja primitiva perseverava na doutrina dos apóstolos (At.2:42).

- Verificamos, portanto, que o papel dos apóstolos foi muito importante, porque foram eles quem transmitiram aos convertidos os ensinos de Jesus, quem ensinaram a Palavra (At.6:4), ensinos estes que acabaram, por inspiração do Espírito Santo, complementando as Escrituras, com o Novo Testamento. Daí a sua proeminência na estrutura da Igreja e, ainda que entendamos que continuou a haver apóstolos ao longo da história da Igreja, o papel destes sempre foi o de ensinar a Palavra, expondo-a ao povo e de organizar as igrejas locais, tendo muito mais autoridade espiritual geral do que propriamente o governo das igrejas locais, o que bem difere estes homens dos “apóstolos” de hoje em dia, que são muito mais “administradores” e “empresários da fé” do que qualquer outra coisa.

- Além dos apóstolos, encontramos os profetas (Ef.4:11), que são servos do Senhor aquinhoados com o ministério profético, que é o de exposição da Palavra de Deus com unção e graça de Deus para a sua aplicação ao caso concreto. Os profetas, assim como os apóstolos, não têm uma atuação circunscrita a uma igreja local ou a um conjunto de igrejas locais, mas são revestidos de uma autoridade espiritual, que transcende os limites das igrejas locais. São porta-vozes do Senhor para o corpo de Cristo e que dão as devidas orientações e prescrições ao povo de Deus com vistas à sua edificação, consolação e exortação, como vemos, por exemplo, nos casos de Ágabo (At.11:28; 21:10) e das filhas de Filipe (At.21:9).

- Mas Jesus também constitui na Sua Igreja pastores(Ef.4:11), denominação que, em o Novo Testamento, equivale a de bispos, anciãos e presbíteros, que são, propriamente, aqueles que governam as igrejas locais, “apascentando o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas, voluntariamente, nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (I Pe.5:2,3). Os pastores têm o dom de presidência (Rm.12:8) e o de governos (I Co.12:28), devendo, pois, estar à frente das igrejas locais, cuidando do povo de Deus e não, como infelizmente hoje acontece, tão somente das finanças ou da própria sobrevivência, preferindo o ouro do templo ao templo, a oferta do altar ao altar (Mt.23:16-21).

- Os pastores, porém, não podem ficar solitários à frente da igreja. Jesus constitui junto a eles mestres, para auxiliá-los no ensino da Palavra(Ef.4:11); evangelistas, para auxiliá-los na pregação do Evangelho(Ef.4:11); diáconos, para cuidar da assistência social e material na igreja local(At.6:1-3); membros portadores de dons espirituais, para exortação, consolação e edificação da igreja(I Co.12,14); músicos, para o louvor e adoração nas reuniões eclesiásticas(I Co.14:26;Cl.3:16); membros portadores de dons assistenciais, para a ajuda material e espiritual aos necessitados(Rm.12:6-8). A igreja é aquinhoada pelo seu Senhor com tudo o que é necessário tanto para a evangelização dos pecadores quanto para o aperfeiçoamento dos santos, pois a obra é dEle e não de cada um dos integrantes da igreja local. É ele quem dá os talentos para que os Seus servos com ele negociem e possam ser achados fiéis e aptos a entrar no gozo do seu Senhor (Mt.25:14-30).

IV – OS “DEVERES CÍVICOS” DOS MEMBROS DA IGREJA

- Após termos visto a organização da Igreja, é importante vermos para que serve a igreja, para que Deus constituiu a Igreja, que é, aliás, o que estaremos a estudar durante todo este trimestre. Muito nos preocupa a realidade atual em que muitos têm perdido a noção do propósito de Deus ao constituir a Igreja.

- O apóstolo Paulo afirmou que o eterno propósito de Deus feito em Cristo Jesus nosso Senhor é o conhecimento da multiforme sabedoria de Deus pelos principados e potestades nos céus, anunciando entre os gentios, por meio do Evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef.3:8-11).

- A primeira razão de ser da Igreja, portanto, é a pregação do Evangelho aos judeus e aos gentios, ou seja, a anúncio da boa-nova, da boa notícia de que Deus enviou o Seu Filho ao mundo para que todo aquele que nEle crê não pereça mas tenha a vida eterna (Jo.3:16). Jesus deixou isto bem claro ao determinar aos discípulos que pregassem o Evangelho a toda a criatura por todo o mundo (Mc.16:15).

-A Igreja existe para pregar o Evangelho, para continuar a pregação de Jesus (Mc.1:14,15). Este, aliás, é um dos motivos pelos quais a Igreja é chamada de “o corpo de Cristo”, pois deve continuar a fazer o que Jesus fez. Enquanto esteve em Seu ministério terreno, o Senhor ia por todas as partes de Israel pregando o Evangelho, mas, agora, já que os Seus não o receberam, mandou que a Igreja prosseguisse este Seu trabalho, continuando a pregar o Evangelho, só que agora a todas as nações, inclusive aos judeus. Esta tarefa da Igreja estaremos a estudar mais amiúde na próxima lição.

- Mas a Igreja não serve apenas para pregar o Evangelho. Tem ela também a tarefa de integrar as pessoas que aceitam a salvação no seu interior. Embora a salvação seja imediata e uma operação do Espírito Santo, o fato é que o crente não pode ser deixado à mercê, isolado e sozinho no mundo. Muito pelo contrário, assim que alguém aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, tem de ser integrado na igreja local, no grupo social onde passará os dias aguardando a volta de Cristo(At.2:41,44). Esta função de integração, que tem no batismo nas águas o seu ponto mais importante, é, também, algo que tem sido muito negligenciado nos nossos dias, e que será objeto da lição 3.

- Outra função importantíssima que é a do aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11-16), a começar pelo discipulado (At.11:25,26). O crescimento espiritual do salvo somente se dá na igreja local. Este é o modelo bíblico, de modo que sem qualquer respaldo nas Escrituras o falso ensino do “self-service”, tão em voga nos nossos dias, segundo o qual se pode servir a Deus “sozinho”, pois “antes só do que mal acompanhado”. Muitos têm se decepcionado com escândalos, intrigas e injustiças nas igrejas locais, que, como todo grupo social de seres humanos, têm defeitos e problemas (que o digam as igrejas que receberam epístolas dos apóstolos…) e, em meio a estas decepções, não vigiam e se deixam enganar por esta doutrina demoníaca. Precisamos uns dos outros para crescermos espiritualmente, para perseverarmos na fé.

- A Igreja, como é o povo de Deus na Terra na atual dispensação, é o único povo que pode adorar a Deus, visto que está em comunhão com Ele, já que seus pecados foram tirados por Jesus (Jo.1:29; Rm.5:1). É, portanto, dever da Igreja adorar a Deus, em espírito e em verdade, já que o Pai procura tais adoradores (Jo.4:23). Deve, portanto, a Igreja cumprir este dever de adoração. É o tema da lição 4.

- A Igreja é uma nação santa, é o sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14) e, por isso, por ainda estar no mundo, embora dele não seja (Jo.17:11,15,16), torna-se o porta-voz natural de Deus para os gentios e para os judeus. A Igreja é a “boca” de Deus para o mundo e, por isso, temos o dever de proclamar a Palavra, de dizer ao mundo qual é a vontade de Deus em todos os assuntos e questões que se apresentarem enquanto perdurar a nossa jornada, a nossa peregrinação. Por isso, tem a Igreja uma missão profética, deve proclamar a Palavra de Deus e exigir o seu cumprimento por grandes e pequenos, sem receio, a exemplo do que faziam os profetas do Antigo Testamento. Este dever profético da Igreja será o objeto da lição 6.

- Como a Igreja foi chamada para dar fruto e fruto permanente (Jo.15:16), frutos, aliás, que são diferentes dos outros povos (Mt.7:15-20), porque se trata do fruto do Espírito (Gl.5:22) e só a Igreja tem e recebeu o Espírito Santo (Jo.14:17), temos que o comportamento da Igreja é diferente do comportamento dos demais homens, sejam judeus, sejam gentios, de sorte que a Igreja acaba por ter, também, uma missão ética, o dever de se portar de modo a não dar escândalo aos outros povos (I Co.10:32), tendo de ter uma conduta que identifique a sua comunhão com o Pai (Mt.5:16). É por este motivo que tem a Igreja um dever ético, que será objeto da lição 7.

- Também por estar no mundo e por se apresentar em grupos sociais, como vimos supra, as chamadas “igrejas locais”, a Igreja acaba tendo de ter um papel perante a sociedade, como, aliás, todo grupo social. Os grupos sociais estão reunidos na sociedade, que é o grupo maior, o grupo que tem, por fim, promover a felicidade, o bem-estar, o chamado bem comum. As igrejas locais não fogem a esta obrigação, que decorre da sua própria natureza de ser parte da sociedade. Deus não nos tirou do mundo nem Jesus quis que isto se fizesse (Jo.17:15) e, diante desta realidade, assim como fez Nosso Senhor, devemos, também, ter uma atuação social digna de nota, que sirva de testemunho de nossa comunhão com Deus. Este dever social é o assunto a ser tratado na lição 8.

- Dissemos, há pouco, que a Igreja é o lugar que o Senhor designou para que sirvamos a Ele, pois, isoladamente, ninguém consegue desenvolver-se espiritualmente e chegar até a glorificação, último estágio de nossa salvação. As imperfeições humanas são tantas que o Senhor fez com que nos uníssemos nas igrejas locais, a fim de que cada um ajudasse o outro a crescer espiritualmente e a resistir ao mal até aquele grande dia. Tem-se, portanto, que um dever de cada cidadão desta nação chamada Igreja é o de ajudar uns aos outros, por intermédio do aconselhamento cristão(Rm.15:14; Cl.3:16; I Ts.5:11; Hb.3:13; 10:25); o de consolar uns aos outros, por intermédio da visitação (I Ts.4:18; Hb.10:24; Tg.5:16); o de promover a comunhão uns com os outros, por intermédio da conciliação (Mt.18:15-17;Ef.5:21; Cl.3:13), temas que serão objeto, respectivamente, das lições 9, 10 e 11.

- Aliás, a Bíblia ensina-nos que devemos nos amar uns aos outros (Jo.13:35), preferirmo-nos em honra uns aos outros (Rm.12:10), recebermo-nos uns aos outros (Rm.15:7), saudarmo-nos uns aos outros (Rm.16:16), servimo-nos uns aos outros pela caridade (Gl.5:13), suportarmo-nos uns aos outros em amor (Ef.4:2; Cl.3:13), perdoarmo-nos uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13), sujeitarmo-nos uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21), ensinarmos e admoestarmo-nos uns aos outros (Cl.3:16; Hb.10:25), não mentirmos uns aos outros (Cl.3:9), consolarmo-nos uns aos outros (I Ts.4:18), exortamo-nos e edificarmo-nos uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13), considerarmo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às obas obras (Hb.10:24), confessarmos as culpas uns aos outros (Tg.5:16). Diante de tantas recomendações bíblicas, como podemos crer na doutrina do “self-service”?

- Sendo a Igreja a coluna e firmeza da verdade (I Tm.3:14-16), ao mesmo tempo em que tem o dever de proclamar a Palavra, exigindo de gentios e de judeus a observância das Escrituras, internamente, a Igreja deve preservar a sã doutrina (II Tm.4:1-5; Tt.2:7-10), lutando tenazmente contra os falsos mestres que se introduzem no seu meio (II Pe.2:1-3; Jd.4), conservando, assim, a massa pura, não permitindo que se ponha nela o fermento arruinador (Mt.13:33; 16:6,11; Mc.8:15; Lc.12:1). Este dever tão premente nos nossos dias é o objeto da lição 12.

- Por fim, cumpre-nos observar que a Igreja, como é um organismo vivo, não pode permitir que as coisas desta vida venham a matar a vida espiritual de seus membros. Por isso, é necessário que a Igreja mantenha os seus membros avivados, proporcionando um ambiente de avivamento espiritual contínuo, demonstrando, assim, ter vida em si mesmo, já que é o corpo de Cristo (Jo.5:26). É esta missão, que o ilustre comentarista denominou de “missão dinâmica”, que será o objeto da lição 13.

- São estes, pois, os deveres que se impõem a cada cidadão dos céus que aqui está na Terra, ou seja, a cada membro em particular da Igreja de Cristo, a nós e a cada leitor que nos dá a honra de meditar conosco neste estudo. No Brasil, o principal dever cívico é o de votar. Quando almejamos pleitear uma vaga em um concurso público, quando queremos concorrer a um cargo eletivo, quando somos nomeados para o exercício de um cargo de confiança na Administração Pública, ou quando tencionamos usar dos nossos direitos de cidadão, como a propositura de uma ação popular, sempre nos é exigida uma “certidão de quitação eleitoral”, ou seja, um comprovante de que temos cumprido com o nosso dever de votar, com o nosso principal dever cívico. Como será que está a nossa “certidão de quitação” na nação chamada Igreja? Será que estamos como aquele servo inútil da parábola dos talentos? Que, se for esta a nossa situação, a partir de hoje, com o estudo deste trimestre, possamos começar a “quitar” as nossas dívidas, para que sejamos encontrados fiéis no dia da vinda do Senhor, pois “bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim.” (Mt.24:46).