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Assembléia de Deus Missão do Brasil - Estudos Bíblicos



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ACONSELHAMENTO CRISTÃO - A MISSÃO AUXILIADORA DA IGREJA

A Igreja, corpo de Cristo, deve prosseguir na tarefa do Maravilhoso Conselheiro.

INTRODUÇÃO

- Como desdobramento da missão social da Igreja, temos a sua “missão auxiliadora”, ou seja, a tarefa que a Igreja tem de ajudar as pessoas, seja a de sua membresia, seja a humanidade como um todo.

- A Igreja, como vimos, é um povo que está no mundo e, mais do que isto, que é sal da terra e luz do mundo, ou seja, que, além de estar no meio dos homens, deve demonstrar, por suas obras, a sua diferença em relação aos demais homens. Por isso, é importantíssimo o papel de ajuda que a Igreja tem em relação à humanidade.

I – SIGNIFICADOS DE CONSELHO

- A ajuda da igreja abrange todas as atividades em que os membros do corpo de Cristo se dispõem a auxiliar as pessoas. Auxílio é uma “contribuição secundária para a realização de uma tarefa’ (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) e isto nos mostra que a Igreja tem o dever de ajudar as pessoas a alcançar a salvação, ou seja, de manter uma comunhão com Deus. Notemos que se trata de um “auxílio”, ou seja, de uma “contribuição secundária”. A Igreja não salva pessoa alguma (ao contrário do que ensinam os “sacramentalistas”), mas tão somente contribui para que as pessoas venham a ter um encontro pessoal com o Salvador.

- A contribuição que a Igreja dá para as pessoas assume múltiplas formas. Na lição anterior, foram mostradas as iniciativas relacionadas com a subsistência material das pessoas. Nesta lição, o enfoque do ilustre comentarista é com o “aconselhamento cristão”, uma das principais formas de auxílio que a Igreja pode oferecer tanto aos servos de Deus quanto aos judeus e gentios.

- “Aconselhamento” é o “ato ou efeito de aconselhar(-se); ato ou efeito de pedir, receber ou dar conselho(s); orientação; indicação da necessidade, conveniência ou desejabilidade de; recomendação,sugestão ; troca de idéias ou reunião para se debater algo.” Em pedagogia e psicologia, aconselhamento é “auxílio ou orientação que um profissional (pedagogo, psicólogo etc.) presta ao paciente nas decisões que este deve tomar com relação à escolha de profissão, cursos etc., ou quanto à solução de pequenos desajustamentos de conduta”.

- A palavra “aconselhamento” vem da palavra “conselho”, cujo significado é “opinião, ensino ou aviso quanto ao que cabe fazer; opinião, parecer; bom senso; sabedoria; prudência; opinião refletida ou resolução maduramente tomada, aquilo que se recomenda e para o aperfeiçoamento moral e espiritual”. A palavra “conselho” vem do latim “consilium”, que designava “"lugar onde se delibera, conselho, assembléia deliberativa, deliberação, resolução tomada, parecer, voto, plano, projeto, desígnio, prudência, moderação”, que, por sua vez, tem origem na raiz “consult”, cujo significado é “"reunir para uma deliberação, deliberar; consultar, tomar conselho; discutir, examinar, ventilar; tomar uma medida qualquer, lançar mão de um expediente”.

- Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a primeira vez em que aparece a palavra “conselho” é em Gn.49:16, em meio às bênçãos finais de Jacó, quando ele se refere a seus filhos Simeão e Levi, recriminando-os pela traição com que trataram Siquém e seus compatriotas. Na bênção do patriarca, ele diz que não queria que sua alma entrasse no “secreto conselho deles”, dando a entender, assim, que o conselho era uma opinião, um parecer tomado no íntimo das pessoas, “in casu”, um desejo de destruição, um desejo homicida que Jacó não queria, em absoluto, compartilhar com seus dois filhos sanguinários.

- A idéia do “conselho” como algo “secreto” é recorrente no Antigo Testamento. Diz R. N. Champlin que, nas 86 vezes em que a palavra aparece nas Escrituras hebraicas, as idéias envolvidas nesse termo são as de que “…os pensamentos das pessoas transparecem em suas reuniões, e isso empresta autoridade às suas palavras, de uma maneira como não se verifica quando alguém fala isoladamente.…” (Conselho, conselheiro. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.875). Em se tratando de um ambiente judaico, onde se tinha a convicção de que, em havendo uma reunião de dez israelitas, o próprio Deus Se fazia ali presente, vê-se que a idéia do “conselho” traduzia a própria manifestação da presença divina no meio do Seu povo. Daí porque o grupo de pessoas que era consultada para a tomada de uma decisão ter sido chamada de “conselho”, como até hoje acontece seja nos países ou organizações internacionais (na ONU, por exemplo, temos o Conselho de Segurança, ou, em nosso país, prevê a nossa Constituição o Conselho da República para assessorar o Presidente da República) ou, mesmo, nas empresas e organizações particulares (v.g., os Conselhos de Administração nas sociedades anônimas e as “assembléias gerais” nas organizações religiosas ou associações).

OBS: “…A instituição do minyan [em hebraico significa ‘contagem’ donde um quórum de dez fiéis do sexo masculino — o número exigido para se poder realizar um culto religioso público, observação do autor, deslocada nesta citação] data da parte final do período do Segundo Templo e provém do versículo do salmista Asaf: ‘Deus estava na congregação dos poderosos [isto é, homens poderosos na fé]’ (Salmos 82:1.). Observa o Talmud: ‘Aquele que reza com a congregação, terá atendida a sua oração’. E a razão disto é: ‘A Schechinah (Presença ou Radiância de Deus) repousa sobre dez homens quando eles se congregam para orar.’…” (AUSUBEL, Nathan. Minyan. In: A JUDAICA, v.6, p.560).

- Duas palavras hebraicas são traduzidas por “conselho”. A primeira é “sôdh”, encontrada em Gn.49:16 e a outra, “etsah”, que se encontra, por exemplo, em Dt.32:28, ambas traduzidas, na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento), por “boulé” (βουλή). Apesar da diversidade de palavras, o significado é praticamente o mesmo, ou seja, o de uma opinião, um parecer, um ponto-de-vista que, constante do íntimo da pessoa, revela-se quando se está em reunião.

- Em o Novo Testamento, a palavra “conselho” surge, pela vez primeira, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Mt.12:14, quando é dito que os fariseus formaram “conselho” contra Jesus. A palavra grega é “symboulion” (συμβούλιον), que, como se verifica, tem a mesma raiz de “boulé” (βουλή).

- “Conselho” é uma “opinião, ensino ou aviso quanto ao que cabe fazer”. Tal significado de “conselho” permite-nos verificar que o “conselho” está relacionado com a atividade de alguém, com uma determinada ação. O “conselho” é algo relacionado com a prática e, dentro deste ponto-de-vista, vemos que cabe, mesmo, à Igreja dar conselhos, visto que ela está no mundo e tem de tomar atitudes quanto ao comportamento que deve ser tomado pelas pessoas no seu dia-a-dia, pois, como vimos na lição 7, ela tem um dever “ético”, um ônus comportamental.

- A Igreja tem de se preocupar com a conduta dos homens que a integram e dos que vivem ao seu redor. Não se trata de impor atitudes aos outros, nem tampouco de conquistar o poder de fazer com que os outros ajam desta ou daquela maneira, como, ao longo da história, muitos equivocadamente têm entendido. Muito pelo contrário, trata-se de uma manifestação do amor divino que está no coração de cada membro em particular do corpo de Cristo: trata-se de sentir compaixão pelos seres humanos e, por causa disto, dar opiniões, ensinos ou avisos a eles sobre o que deve ser feito no cotidiano, no viver debaixo do sol.

- O conselho a ser dado pela Igreja, portanto, deve ser conseqüência do seu amor pelos homens, da sua compaixão, amor e compaixão que recebe diretamente de sua cabeça, que é Cristo Jesus. “Compaixão” é “sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Devemos nos pôr no lugar do que está a sofrer, devemos ocupar, ainda que mental e sentimentalmente, a sua posição, para, então, ao sentir a sua mesma dor, termos condição de dizer o que lhe cabe fazer numa situação desta natureza, trazer-lhe o parecer divino a respeito de uma dada realidade.

- Conselho é uma opinião, um ensino, um aviso (aliás, em inglês, a palavra “conselho” é “advice”). Isto nos mostra que, embora a Igreja tenha plenas condições para dizer o que deve ser feito, vez que é a coluna e firmeza da verdade (I Tm.3:15), jamais pode se comportar como um grupo impositivo, como um grupo que retira a liberdade das pessoas, o livre-arbítrio. Por isso, a Bíblia fala em “conselho” e não em “ordem” ou “mandamento”. O “conselho” é uma recomendação, é uma opinião, é um aviso, uma advertência que se faz aos homens que, entretanto, podem, ou não, segui-la, podem, ou não, atendê-lo. Reside aqui o fundamento pelo qual deve a Igreja sempre defender a tolerância religiosa e a liberdade de culto e de crença nas sociedades onde prega o Evangelho, tolerância que nada tem que ver com a existência de um “relativismo ético”, mas, sim, pelo simples fato de que o homem foi criado com livre-arbítrio, com poder para acolher, ou não, o conselho dado pela Igreja.

- Tem a Igreja o dever de avisar, de dar a sua opinião. Não cabe à Igreja dominar sobre as pessoas, mas tem o dever para com Deus de divulgar a correta opinião, o correto conselho da parte do Senhor. É por isso que a Igreja é a portadora da “ortodoxia”, palavra grega que significa “a correta opinião”. Este dever da Igreja está claramente explicitado nas Escrituras nas palavras que o Senhor disse ao profeta Ezequiel, como se lê no capítulo 33 do livro daquele profeta(Ez.33:1-9). A missão da Igreja, como porta-voz do Senhor, é dar o aviso, dar a opinião, dar o parecer segundo a vontade de Deus aos homens, quer eles ouçam, quer eles deixem de ouvir (Ez.2:5,7;3:11).

- Mas “conselho”, também, tem o significado de “parecer; bom senso; sabedoria; prudência; opinião refletida ou resolução maduramente tomada, aquilo que se recomenda e para o aperfeiçoamento moral e espiritual”. Estes significados de “conselho” mostram-nos que o “conselho” deve ser uma perfeita conjugação entre o raciocínio humano e o conhecimento espiritual.

- “Conselho” é parecer, é bom senso, é uma opinião refletida ou resolução maduramente tomada. O conselho não é fruto de um impulso, de um rompante, de uma manifestação instintiva ou sem qualquer reflexão ou pensamento. Bem ao contrário, o conselho deve ser uma ação que seja resultado de uma análise profunda, de verificação de todos os dados e fatores envolvidos, de uma apreciação das circunstâncias, da história dos fatos, a fim de que se tenha uma decisão que tenha base racional, que tenha lógica, que tenha fundamentos e argumentos.

- O “conselho” sempre está relacionado com a reflexão, com o amadurecimento das idéias, com a verificação de todas as hipóteses possíveis, de todas as alternativas. Não pode dar conselho quem não tiver conhecimento, quem não souber pensar, quem não tiver maturidade (que não se confunde com idade. Há muitos “marmanjos” imaturos e muitos jovens maduros). Exemplo disto temos no episódio que envolveu a separação do reino de Israel, no tempo de Roboão. Roboão desprezou o conselho dos anciãos, daqueles que haviam auxiliado Salomão e preferiu seguir o conselho dos jovens, daqueles de sua geração que não tinham qualquer maturidade e o resultado foi a perda de dez tribos (I Rs.12:1-25; II Cr.10).

- Mas o conselho não diz respeito apenas a este lado racional, pois, em relação a isto, sempre haverá conselheiros, e bons conselheiros, em todo o mundo, como nos tem mostrado a história da humanidade. Além de uma base racional, de uma reflexão, o “conselho” também deve ter um substrato espiritual. É por isso que o conselho é, também, sabedoria, prudência. O princípio da sabedoria é o temor do Senhor (Sl.111:10; Pv.9:10) e a ciência do Santo, a prudência (Pv.9:10). Com os que aconselham se acha a sabedoria (Pv.13:10b).

- O conselho tem de partir de quem tenha sabedoria e prudência, ou seja, de quem teme a Deus, de quem O conhece, de quem tem intimidade com Ele. Ora, somente quem creu em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, quem está perto do Senhor por causa do papel purificador do Seu sangue, tem, pois, condições de dar um bom conselho, de dar uma opinião que, além da reflexão racional, demonstrará o conhecimento da Verdade, ou seja, da Palavra (Jo.17:17).

- O conselho não pode, pois, circunscrever-se nos aspectos racionais, na lógica humana, mas, também, deve ter um fator espiritual, um aspecto sobrenatural, relacionado com a sabedoria, com a prudência, sabedoria e prudência que vêm necessariamente do alto, da parte de Deus. Por isso, o conselho jamais poderá ter finalidade destrutiva ou de morte, mas, pelo contrário, será sempre puro, pacífico, moderado, tratável, cheio de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia(Tg.3:17).

- Reside neste fator espiritual a distinção entre o bom e o mau conselho, entre o conselho do justo e o conselho do ímpio (Sl.1:1). Ambos os conselhos não se distinguem pelo aspecto racional. Alguns até se apresentam como racionalmente bem melhores, como o conselho de Aitofel (II Sm.16:23), que, se tivesse sido seguido por Absalão, teria levado Davi à derrota, mas, como não vêm do alto, estes conselhos são despidos de sabedoria e, por isso, não trazem o bem aos que o seguem, tanto que Aitofel, verificando que seu conselho não fora seguido, suicidou-se, numa demonstração clara de que não era alguém que tivesse o temor de Deus, ao menos naquele instante (II Sm.17:23).

- Sabido que é o conselho e que há bom e mau conselho, devemos verificar qual é a fonte de todo bom conselho. Ora, a fonte de todo bom conselho, como de tudo que é bom só pode ser o Senhor, pois tudo quanto fez foi bom, muito bom (Gn.1:31).

- No entanto, com relação ao conselho, é importante observar que as Escrituras não só deixam claro que a fonte de todo conselho é Deus como também que não há como se ter conselho sem que sua origem não seja o Senhor. Por mais de uma vez, a Bíblia deixa claro que ninguém pode aconselhar a Deus (Is.40:13; Rm.11:34). Se ninguém pode aconselhar a Deus, vemos que todo conselho que não proceder de Deus, será um conselheiro de Belial, um mau conselheiro, um conselheiro falso e fracassado (Na.1:11).

- Mas Deus não é apresentado apenas como quem nunca é aconselhado, mas Ele próprio é mostrado como o Maravilhoso Conselheiro (Is.9:6), um dos títulos do Messias. Com efeito, embora seja costumeiro que nós apresentemos Jesus como Maravilhoso e como Conselheiro(como se encontra na Versão Almeida Revista e Corrigida impressa, na Versão Almeida Fiel e Corrigida, na Edição Contemporânea de Almeida, na Tradução Brasileira, na Bíblia na Linguagem de Hoje, na Bíblia Viva e na Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo – que prefere a expressão “Admirável”), as melhores traduções apresentam a Jesus como “Maravilhoso Conselheiro”, como, aliás, está na Versão Almeida Revista e Corrigida da Bíblia On-Line da Sociedade Bíblica do Brasil e, também, em outras versões, como a Versão Almeida Revista e Atualizada; a Nova Versão Internacional; a Bíblia Hebraica, versão de David Gorodovits e Jairo Fridlin, recentemente publicada pela Editora Sêfer; a Tradução Ecumênica Brasileira; a Edição Pastoral; a Versão dos Monges de Mardesous (ainda que, nesta versão, a expressão tenha sido traduzida por “Conselheiro admirável”); a Bíblia de Jerusalém (que preferiu a expressão “Conselheiro-maravilhoso”) e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (que, inclusive, prevê a variante de “Conselheiro Sábio”).

- Com efeito, como o texto original não possui pontuação, a rigor, qualquer uma das duas traduções deveria ser aceita. No entanto, se considerarmos o título “Maravilhoso Conselheiro”, teremos um paralelismo, uma congruência no texto, pois os demais títulos do Messias são também compostos (“Deus forte”, “Pai da eternidade” e “Príncipe da Paz”).

- Jesus, o Verbo Divino, a Pessoa Divina encarregada de revelar a Divindade na Sua plenitude aos homens (Cl.2:9; Hb.1:1), tinha, mesmo, de ser o “Maravilhoso Conselheiro”, visto que é por meio do conselho, como vimos, numa reunião de pessoas, que se revela o que há no íntimo de cada um e é Jesus quem nos revela tudo quanto procede do Pai ao Seu povo, ao Seu corpo, que é a Igreja (Jo.15:15).

- Tanto assim é que o Messias é apresentado pelo profeta Isaías como Aquele que tem o “espírito do conselho” (Is.11:2). Ora, como se sabe, os “sete espíritos” mencionados em Is.11:2 e que são novamente referidos no Apocalipse (Ap.1:4; 3:1; 4:5; 5:6), nada mais são que “…as diferentes operações do Espírito Santo nessa perfeição, que necessariamente lhes pertence…” (SCROGGIE, Graham. Notas Diárias apud SILVA, Severino P. da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.16, nota 7). Deste modo, temos que o “conselho” é uma operação do Espírito Santo, é algo que provém, portanto, da Divindade e que somente a Igreja pode realizar, pois é o único povo da face da Terra em que o Espírito Santo habita (Jo.14:17; Rm.8:9).

- Sendo Jesus a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), mas também o Salvador do corpo, é imperioso que sempre esteja a aconselhar os salvos, visto que é através deste conselho que entenderemos a Sua vontade, que não nos apartaremos dEle. Por isso, também, a Igreja não será o verdadeiro e autêntico corpo de Cristo se não estiver a aconselhar as pessoas, a transmitir o conselho divino a todos quantos estejam dispostos a ouvi-lo, visto que deve fazer o que manda a sua cabeça.

- Mas este Conselheiro, como se disse, é Maravilhoso, ou seja, não se trata de um conselheiro puramente racional, lógico e que possa ser entendido e compreendido plenamente pela mente humana, mas é um Conselheiro Maravilhoso, ou seja, miraculoso, que faz sinais e maravilhas, que confunde as mentes humanas, que não consegue ser perfeitamente entendido. Por isso, não adianta querer “enquadrar” este Conselheiro, querer “racionalizar” ou “historicizar” este Jesus, como muitos tentam inutilmente, pois Ele é o Maravilhoso Conselheiro. Embora Se faça compreender a nós pela nossa razão, de forma que possamos entendê-lO, compreendê-lO, somente pela lógica e pelo raciocínio jamais poderemos seguir os Seus conselhos, pois teremos de agir com um elemento sobrenatural, que está além da razão, que não pode ser compreendido pela nossa mente: a fé. Por isso, o apóstolo Paulo denomina a forma pela qual ouvimos este conselho de “a loucura da pregação” (I Co.1:21). O conselho de Deus só pode ser discernido espiritualmente (I Co.2:14).

OBS: O “Maravilhoso Conselheiro”, em hebraico, é “pele yaats” — פלא יעץ — ou seja, o conselheiro que é de difícil entendimento, que é extraordinário, miraculoso.

II – O ACONSELHAMENTO

- Visto o que é conselho, ainda que em linhas bem gerais, passemos ao estudo do que é “aconselhamento”. Como vimos, é, em primeiro lugar, o “ato ou efeito de aconselhar(-se); ato ou efeito de pedir, receber ou dar conselho(s)”.

- A primeira característica importante a respeito do “aconselhamento” é a de que o “aconselhamento” não é uma via unilateral. Aconselhar não é apenas dar conselhos, mas também pedi-los, recebê-los. Esta dupla significação, tanto ativa quanto passiva, é de fundamental relevância ao tratarmos da missão aconselhadora da Igreja. A Igreja não só dá conselhos, como também os recebe. Não somos donos da verdade, mas, simplesmente seus portadores. A Igreja é a “coluna e firmeza da verdade”, ou seja, quem sustenta a verdade, quem demonstra a sua existência, mas a Verdade é Jesus (Jo.14:6), a Palavra de Deus (Jo.17:7).

OBS: É interessante observar que os “donos da verdade” que surgem em nosso meio quase sempre são pessoas que tem aversão pelo estudo das Escrituras, como bem observou o pastor Ailton Muniz de Carvalho, em trecho que vale a pena transcrever: “…Atualmente, vemos muitas pessoas sem compromisso algum com a Palavra de Deus, pessoas que, normalmente, saem perambulando o ano inteiro, de aldeia em aldeia, são como ovelhas sem pastor e “pastores sem ovelhas”. A maioria desses supostos ministros nunca dirigiu uma única igreja e nem sequer sabem quanto vale uma alma, por isso pouco se importam com o efeito de suas metralhadoras ambulantes; para eles, é indiferente. Infelizmente estas são pessoas que dizem, com orgulho, que nunca têm tempo para uma reflexão bíblica, muito menos para freqüentar uma escola teológica. Eles se sentem "donos da verdade", fazem questão de dizer que não precisam ir ao culto de ensinamento. Aconselhamos os irmãos a manterem distância destes nicolaítas e causadores de intrigas entre pastores e membros, entre maridos e mulheres, entre pais e filhos, entre patrões e empregados etc.…”(O Cristo Desconhecido dos judeus, da ciência, da história e até mesmo dos ‘cristãos’, p.50).

- O primeiro fator referente ao “aconselhamento” é a de que ele tem de ser bilateral, ou seja, deve-se tanto dar como receber conselhos. O aconselhador deve estar pronto a também aprender com o aconselhando, deve estar disposto a também crescer juntamente com aquele que aconselha. Aconselhar é dar e receber conselhos, é dar e receber informações, é dar e receber opiniões, é dar e receber avisos. A Igreja deve estar plenamente consciente de que o aconselhamento é uma das manifestações da Palavra de Deus, que é a espada do Espírito (Ef.6:17), uma espada bigúmea (Hb.4:12), isto é, que tem dois gumes, ou seja, corta tanto do lado de lá, como do lado de cá, tanto para quem recebe como para quem dá o conselho.

OBS: Nós mesmos temos esta experiência. Numa determinada igreja local, após termos pregado uma palavra de exortação aos irmãos a respeito da desobediência, o Senhor revelou à dirigente da reunião de que a primeira pessoa que deveria ouvir aquela palavra éramos nós mesmos que, por causa de uma desobediência, sofríamos de uma hérnia de hiato entre o esôfago e o estômago e de que o Senhor, naquela mesma hora, estava nos curando para provar o Seu agrado pela Palavra dada e, naquele mesmo instante, fomos curados daquele mal.

- O “aconselhamento” é, também, “orientação; indicação da necessidade, conveniência ou desejabilidade de; recomendação, sugestão; troca de idéias ou reunião para se debater algo.” Vê-se, de pronto, que o aconselhamento não é uma imposição, mas uma orientação, ou seja, a indicação de um caminho a seguir, uma proposta, uma sugestão, uma recomendação. Como já dissemos supra, o “conselho” sempre leva em conta o livre-arbítrio do ser humano, sempre respeita a vontade de cada um.

- No “aconselhamento”, a tarefa do aconselhador é demonstrar porque é necessário, porque é conveniente se tomar esta ou aquela atitude. Mostrar ao aconselhando quais são as alternativas possíveis e o que deve ser feito à luz da Palavra de Deus (em se tratando do aconselhamento cristão). Não se trata de usar de truculência, de violência nem de força, nem mesmo de eloqüência ou retórica, mas, sim, da Palavra de Deus (Zc.4:6a; I Co.2:4).

- O “aconselhamento” é uma reunião, uma troca de idéias, onde o aconselhador deve, sim, estar com seus ouvidos atentos para ouvir o aconselhando, pois não se trata de um “despejo de idéias” por parte de alguém, mas, sim, de um atento ouvir, de um perceber de uma situação que, após ser plenamente verificada, deve ser enquadrada à luz da Palavra, para que todos os envolvidos, sob a presença de Deus, possam chegar à verdade, possam chegar às conclusões e às atitudes que agradem ao Senhor.

- Neste ponto, aliás, cumpre aqui retomar um provérbio popular que se encontra fundamentado nas Escrituras. Diz este dito que temos dois ouvidos e apenas uma boca porque devemos mais ouvir que falar. Trata-se de uma verdade que não podemos negar. A Bíblia está repleta de recomendações relacionadas com o ouvir e sua superioridade em relação ao falar (cfr. Pv.1:5; 18:13; Ec.5:1). No aconselhamento, quando se vai demonstrar sabedoria, é indispensável que se saiba ouvir.

OBS: Como o aconselhamento é uma das atividades próprias de um líder, vemos quantos que querem liderar estão distantes da imagem do líder. “…Ouvir é uma das habilidades mais importantes que um líder pode escolher para desenvolver.…” (HUNTER, James C. O monge e o executivo, p.13)

- Mas aconselhamento também é “orientação”, “indicação de necessidade”, ou seja, é apontar uma direção, um caminho a seguir. Somente pode aconselhar quem conhece o caminho a ser seguido, quem tem condições de “enxergar” um caminho a seguir. Aconselhamento, portanto, pressupõe um certo conhecimento de uma rota, de uma direção. Ora, em termos cristãos, este caminho outro não é senão a Palavra de Deus, a comunhão com Cristo, a vida espiritual. Tanto assim é que a doutrina cristã era chamada pela igreja dos tempos apostólicos de “Caminho”, como nos mostra o livro de Atos (At.19:9,23; 22:6; 24:14).

- Aconselhar exige, portanto, além de ouvir, conhecer o Caminho, ou seja, ter conhecimento da Palavra de Deus, do próprio Jesus, que é o Caminho (Jo.14:6). Como alguém pode aconselhar se não tem conhecimento a respeito do Caminho? Como poderá indicar a rota, orientar a direção, se não sabe nem tem condições de conhecer o caminho apertado, que conduz à vida eterna (Mt.7:14).

- O aconselhamento, também, é uma troca de idéias, uma reunião para se debater algo. Isto nos mostra que o aconselhamento precisa se dar em meio a um grupo, não se faz isoladamente. Aconselhamento não é uma atividade que resulte de uma interiorização da pessoa (como as meditações transcendentais que tanto se propalam nos nossos dias), nem uma ação que seja conseqüente de uma sobrenatural comunicação com “seres superiores”. Aconselhamento é uma atividade social, fruto da comunicação entre seres humanos, fruto de uma interação, de um debate, de uma troca de idéias e de experiências. Por isso, até, cabe à Igreja esta tarefa, pois é ela o conjunto dos “reunidos para fora”.

- Por causa disto, o aconselhamento é uma atitude que está cada vez mais a rarear no mundo em que vivemos. Como afirma a Bíblia Sagrada, os últimos dias caracterizam-se pela presença de “homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” (II Tm.3:2-4).

- Este quadro apresentado pelo apóstolo Paulo mostra-nos porque o aconselhamento é tão difícil nos nossos dias e como deve ser uma tarefa que a Igreja deve lutar para que não desapareça ante um ambiente tão hostil. Quando verificamos as características dos homens dos últimos dias, vemos que são pessoas totalmente inadequadas para o aconselhamento. Senão vejamos:

a) amantes de si mesmo – quem ama a si mesmo não pede nem dá conselhos, pois se considera auto-suficiente.

OBS: Não surpreende que esteja tão em voga o dito popular “Se conselho fosse bom, não seria dado, mas vendido” ou que tenha tido tanto sucesso tanto um adesivo de carro que diz que “Deus deu a vida para que cada um cuide da sua” ou uma música popular onde se diz que “Tô nem aí, Tô nem aí... Pode ficar com seu mundinho eu não to nem aí Tô nem aí, Tô nem aí... Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir.. “. É esta a filosofia vigente em os nossos dias.

b) avarentos – quem é avarento, dá valor às riquezas, aos bens e não às pessoas, de modo que não se importa nem em dar nem em receber conselhos, pois não vê valor nas pessoas.

c) presunçosos – quem é presunçoso, acha-se “sabichão”, motivo por que não pede conselhos nem os dá, visto que se sente superior aos demais e não quer “concorrentes”.

d) soberbos – quem é soberbo, não dá nem pede conselhos, acha-se perfeito e auto-suficiente.

e) blasfemos – quem blasfema de Deus, naturalmente não quer, em hipótese alguma, saber qual a vontade de Deus nas suas atitudes.

f) desobedientes a pais e mães – a desobediência a pais e mães é a principal maneira de não atender aos conselhos, pois os pais são as pessoas que mais nos aconselham.

g) ingratos – a ingratidão tem como uma das principais características o esquecimento a respeito dos benefícios obtidos de terceiros, ou seja, é um desprezo a quem nos aconselhou no passado.

h) profanos – pessoas que não sabem separar o que é puro do que não é são pessoas que não dão valor a conselhos oriundos da Palavra de Deus, que é fonte de santificação.

i) sem afeto natural – o aconselhamento é resultado da compaixão em relação ao próximo, pessoas sem afeto natural são incapazes de pedir ou de dar conselhos.

j) irreconciliáveis – pessoas que não admitem se reconciliar, entrar em acordo com alguém são pessoas que, naturalmente, não estão dispostas a ouvir pessoa alguma, o que torna o aconselhamento impossível.

l) caluniadores – pessoas que difamam o próximo são pessoas que não respeitam o outro e, por isso, são também invulneráveis a qualquer aconselhamento.

m) incontinentes – pessoas que não conseguem conter os seus atos são pessoas incapazes de dar ou receber conselhos, pois isto exige reflexão, algo que a incontinência não permite.

n) cruéis – a crueldade tem prazer no sofrimento alheio e, logicamente, não quererá pedir ou dar conselhos para que isto seja mudado.

o) sem amor para com os bons – já vimos que o amor ao próximo é o primeiro requisito para o aconselhamento.

p) traidores – o aconselhamento envolve uma troca de idéias, envolve sinceridade de propósitos, o que é o avesso do espírito do traidor.

q) obstinados – a obstinação é a teimosia, é a desconsideração de qualquer outra opinião senão a sua, algo que impossibilita qualquer aconselhamento.

r) orgulhosos – o orgulho é a auto-suficiência, é a surdez a todo e qualquer conselho.

s) mais amigos dos deleites do que amigos de Deus – Deus está presente na reunião que é feita em Seu nome, na orientação, no aconselhamento. Quando se pensa no prazer e não em Deus, o aconselhamento é impossível.

- Verificamos, portanto, que o comportamento que é cada vez mais presente no mundo (inclusive entre os que cristãos se dizem ser mas não o são, embora estejam em o nosso meio) é totalmente hostil ao aconselhamento, torna esta atividade cada vez mais difícil e penosa, mas se trata de um encargo, de um dever imposto à Igreja e, por causa disto, não podemos esmorecer. Devemos aconselhar, com base na Palavra de Deus, quer os homens ouçam ou deixem de ouvir as recomendações e o convite do Senhor a cada um deles.

III – AS FORMAS DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO

- Pelo que já pudemos observar a respeito do aconselhamento, o único e verdadeiro aconselhamento é aquele que é baseado na Verdade, ou seja, na Palavra de Deus. Se aconselhar é dar ou pedir conselhos e o conselho genuíno e autêntico é aquele que tenha, simultaneamente, base racional e espiritual, a Igreja é o único povo, na atual dispensação, que pode, validamente, aconselhar a humanidade, pois só ela tem condições de orientar os homens no caminho em que devem andar.

- O aconselhamento cristão é, pois, aquele que, baseado no amor a Deus e no amor ao próximo, procura orientar as pessoas, membros da Igreja ou não, no Caminho, ou seja, diz às pessoas o que elas devem fazer à luz da Palavra de Deus. O aconselhamento cristão é cristão não porque as pessoas que dão as sugestões se intitulem cristãs, seguidoras de Cristo, mas porque a orientação que é dada tem por base única e exclusiva a Bíblia Sagrada, que é o próprio Verbo Divino, o próprio Cristo (Jo.1:1; Ap.19:13).

- Larry Crabb, grande especialista em aconselhamento cristão, não titubeia em afirmar que todo aconselhamento deve ter como alicerce “…a aceitação da idéia simples (mas bem radical) de que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, sem cair na superficialidade e na irrelevância. Para atingir esta meta, é necessário ver como a desordem psicológica é realmente o produto da busca pecaminosa da vida independente de Deus. É necessário ainda desenvolvermos um enfoque da Escritura que nos capacite não apenas a compreender como também a ser afetados por sua verdade. Esse enfoque, creio, nos permitirá ver a relevância da verdade bíblica na conceitualização e tratamento da desordem emocional. Três premissas governam meu pensamento enquanto reflito sobre a natureza do aconselhamento bíblico:

1. Se focalizada de maneira apropriada, a Bíblia é suficiente para fornecer a estrutura para se chegar a uma conclusão a respeito de todas as perguntas que o conselheiro precisa fazer.

2. O relacionamento com Cristo oferece recursos totalmente indispensáveis para resolver substancialmente todo problema psicológico (isto é, os que não têm causas orgânicas).

3. A comunidade do povo de Deus, trabalhando em conjunto nos relacionamentos bíblicos, é o contexto pretendido para compreender e vivenciar as respostas de Deus aos problemas da vida.…” (CRABB, Larry. Como compreender as pessoas: fundamentos bíblicos e psicológicos para desenvolver relacionamentos saudáveis, p.22).

- Como podemos, portanto, observar, segundo Larry Crabb, o aconselhamento cristão (que ele já chama de “bíblico”) tem que ter como base a Palavra de Deus, dentro de um contexto de amor divino, que foi derramado no coração de cada integrante da Igreja (Rm.5:5), bem como se desenvolver num grupo, numa reunião que é a própria igreja local.

- As Escrituras falam, em diversas passagens, a respeito do aconselhamento. Se há passagens que nos falam explicitamente em “aconselhar”, temos, também, de verificar que o aconselhamento se encontra registrado nas Escrituras sob outras palavras, como “admoestar”, “repreender”, “exortar”, “redargüir” e “corrigir”. Tais atitudes devem sempre ser feitas com base na Bíblia, na igreja local e com profundo amor.

- A palavra “admoestar” significa “avisar (alguém) da incorreção de seu modo de agir, pensar etc.; advertir (alguém) de maneira branda (sobre alguma coisa); aconselhar “. Como podemos ver, a admoestação é um aconselhamento, é dar um conselho, diante de alguma atitude incorreta que alguém esteja tomando. Verifiquemos, a propósito, que esta advertência deve ser feita de maneira branda, ou seja, com ternura, sem dureza, com respeito, sem humilhação. É por isso que se trata de uma forma de aconselhamento apropriada para o relacionamento entre pais e filhos. Com efeito, a Bíblia ensina que é supremo dever dos pais em relação aos filhos a criação na “doutrina e admoestação do Senhor” (Ef.6:4).

- A palavra grega para “admoestar” é “nouthesia” (νουθεσία), cujo significado é “olhar com a mente”, ou seja, a contemplação mental de uma verdade, a demonstração de uma verdade com raciocínio e argumentação. No Antigo Testamento, a palavra hebraica é “zahar” (Ec.4:13), que significa “trazer luz”, “iluminar”. “Admoestar”, portanto, nada mais é que trazer a Palavra de Deus ao conhecimento do ouvinte, é mostrar, nas Escrituras, como deve ser uma conduta. É mostrar a Bíblia, não é mostrar o erro da pessoa. É mostrar a verdade, não envergonhar a pessoa. Esta conduta, aliás, deve ser tomada em relação ao homem herege, a quem a Bíblia aconselha que, após uma e outra admoestação, deve ser evitado, não atacado nem humilhado (Tt.3:10).

- A admoestação deve ser feita de modo individual, personalizado, com sensibilidade (At.20:31). Ao verificarmos que um irmão está a agir erroneamente, não devemos divulgar aos quatro cantos da terra, nem dar uma “demonstração de santarronice”, mas, com lágrimas, buscar a Deus para que tenhamos uma palavra de conforto e de edificação para aquele que está errando. Se vemos o irmão errando, isto não se dá por acaso, mas temos, diante de Deus, a responsabilidade para “admoestá-lo”, ou seja, de lhe mostrar na Palavra o seu erro, de modo a que ele possa se emendar e endireitar os seus caminhos. É uma responsabilidade que Deus nos dá e que temos de nos desimcumbir. Agora, será que temos o conhecimento e a sabedoria necessários para tal admoestação? Se não o temos, estamos em falha e precisamos melhorar os nossos caminhos diante do Senhor!

- A admoestação exige de cada um de nós que estejamos cheios de bondade e de conhecimento (Rm.15:14). Se não temos amor, se não sentimos compaixão por aquele que está agindo incorretamente, não estamos habilitados a admoestá-lo. Deveremos tão somente orar por este irmão, a fim de que o Senhor levante alguém que tenha esta capacidade para admoestá-lo, assim como orar por nós mesmos, por estarmos “fora do ponto”. Esta atitude é ainda mais necessária para quem é mestre na casa do Senhor, como os professores da Escola Bíblica Dominical. Temos condição de admoestar os alunos?

- Há quem entenda que só deva admoestar o pastor ou, às vezes, o mestre ou um obreiro. Mas a Bíblia manda que nos admoestemos uns aos outros (Rm.15:14) e que, para tanto, é necessário apenas que estejamos cheios de bondade e de conhecimento. É evidente que um obreiro tem o dever de ter condições de admoestar, pois, para ser separado para o ministério, tem de ter aptidão para ensinar (I Tm.3:2), mas esta tarefa não lhe é exclusiva.

- Mas há, ainda, um terceiro e último requisito para a admoestação, a saber: o exemplo. Para que possamos admoestar, é necessário que retenhamos firmemente a sã doutrina, ou seja, que a vivamos a cada dia, a cada instante(Tt.1:9). Jesus admirou a multidão não pelo que falava, o que era repetido, pelo menos há quase cem anos, pelos escribas e doutores da lei, mas pela autoridade representada pelo exemplo de vida que mostrava aos Seus contemporâneos (Mt.7:28,29), pois, ao contrário dos fariseus, vivia o que pregava (Mt.23:2,3). A falta de exemplo tem impedido a admoestação em muitas igrejas locais e propiciado a perda de milhares de pessoas dia após dia.

- Mas o aconselhamento não se dá apenas em forma de “admoestação”. Também as Escrituras os falam de aconselhamento quando nos fala em “repreender”. É interessante observar que a única vez em que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, surge a palavra “repreender” é em Lv.19:17, quando Moisés está a elencar os deveres que há em relação ao próximo, pouco antes de dizer que devemos amar ao próximo como a nós mesmos (o que se dá em Lv.19:18), mandamento que seria tão evidenciado pelo Senhor Jesus. Ali é dito que não podemos deixar de repreender o próximo a fim de não sofrermos nele pecado.

- O texto diz que não podemos aborrecer o próximo no seu íntimo, mas não podemos deixar de repreendê-lo (Lv.19:17). A palavra hebraica para “repreender” é “yakach”, cujo significado é “apontar”, “corrigir”. Aqui, como na “admoestação”, fica bem enfatizada a distinção que deve existir entre “apontar o erro” e “aborrecer a pessoa”. Jamais se deve desrespeitar o próximo, ainda que se esteja a repreendê-lo. Quando aconselhamos alguém, mesmo quando lhe apontamos o erro, jamais podemos faltar com o respeito a esta pessoa, pois Deus criou os homens com dignidade, à Sua imagem e semelhança, de modo que jamais poderemos ferir esta imagem do Senhor, muito menos a pretexto de ensinar-lhe o caminho, de ensinar-lhe a verdade.

OBS: A propósito, vejamos o pensamento judaico a respeito de como os líderes devem tratar o público: “…Nossos Sábios [i.e., os sábios judeus, observação nossa] declaram que Deus derrama lágrimas todos os dias por três tipos de pessoas: (1) por aqueles que podem dar-se ao luxo de se engajar no estudo da Torá e não o fazem; (2) por aqueles que não podem dar-se ao luxo de se engajar no estudo da Torá e o fazem; (3) pelos líderes comunitários que tratam o público com arrogância.(…). Maimônides [grande filósofo e comentarista da lei judaica da Idade Média, observação nossa] é ainda mais eloqüente ao expressar, segundo a visão talmúdica [i.e., do Talmude, segundo livro sagrado do judaísmo, observação nossa], o respeito que um líder deveria ter por sua comunidade e vice-versa: ‘...Ele também está proibido de tratar o povo com leviandade Embora eles talvez sejam ignorantes, ele não deveria pisotear as cabeças do povo sagrado. Embora eles sejam pessoas comuns e mais baixas em seu estado, ainda assim são filhos de Abrahão, Isaac e Jacob. Ele são os anfitriões de Deus, os quais Ele tirou do Egito com grande poder e mão poderosa. Ele deveria suportar pacientemente o fardo e as cargas da comunidade, como fez Moshé Rabenu (Moisés, nosso Mestre) a respeito de quem está escrito:’...assim como leva o criado à criança que mama...’(Números 11:12)…” (BELKIN, Samuel. A filosofia do Talmud: o caráter sagrado da vida na teocracia democrática judaica, p.142-3). O que se disse sobre Israel, vale, com muito maior intensidade, para a Igreja, a Noiva do Cordeiro.

- “Repreender” significa “admoestar energicamente; advertir, censurar”, sendo proveniente da palavra latina “reprehendo”, que, por sua vez, significa “agarrar por detrás, reter, segurar, prender, apanhar; reter, suster; repreender, censurar, condenar, criticar”. Logo podemos observar que o objetivo da “repreensão” é “agarrar por detrás”, “reter”, “segurar”, “prender” e não, como alguns lamentavelmente entendem, “lançar fora”, “jogar fora’. Alguém é repreendido, na igreja local, para que seja segurado, para que seja mantido entre os salvos, não para que seja lançado para o mundo.

- A “repreensão” é uma atitude que a Bíblia, várias vezes, comete ao próprio Deus (II Sm.22:16; Sl.18:15; 104:17; Pv.3:11). No mais das vezes, no Antigo Testamento, a palavra hebraica é “geara”, que significa “reprovação” ou, então, a palavra hebraica “towkechah”, que também significa “reprovação”, mas, também, com o sentido de “castigo”, “correção”. O objetivo da repreensão divina é a conversão, o endireitamento das veredas (Pv.1:23).

- Tanto assim é que, em o Novo Testamento, a repreensão está relacionada com a correção, com a melhora daquele que é repreendido. Isto vemos claramente na primeira vez que a palavra “repreensão” surge na Versão Almeida Revista e Corrigida, em II Co.2:6, quando Paulo torna a falar do “iníquo” que se prostituía até com a mulher de seu pai, caso tratado na primeira carta (I Co.5), quando o apóstolo afirma que ele deveria ser perdoado e consolado, depois que havia sido repreendido (II Co.2:7), coisa bem diferente daquilo que é ensinado e praticado por alguns que gostam de “entregar o corpo das pessoas a Satanás”.

OBS: A palavra grega em II Co.2:6 é “epitimia” (έπιτιμία), cujo significado é “castigo”, “punição”.

- Vemos, portanto, que, mesmo na forma de repreensão, o aconselhamento deve ser feito com amor, ainda que energicamente, ainda que com reprovação dos atos errôneos praticados, mas sempre visando o bem-estar da pessoa errada, a sua restauração espiritual, por mais grave que tenha sido a sua infração. “Repreender” é segurar, é não deixar a pessoa cair definitivamente, fracassar espiritualmente.

- Outra palavra utilizada para o aconselhamento é “exortar”, “exortação”. “Exortar” é “dar estímulo a; animar, estimular; induzir (alguém) a fazer ou pensar determinada coisa; persuadir.” A palavra tem origem no latino “hortari”, que já significa incentivar, estimular. Bem se vê, pois, que “exortar” nada tem que ver com “bater”, “machucar”, “ferir”, como alguns têm defendido e ensinado nas igrejas locais, mas, sim, tem o significado de “animar”, de “dar ânimo”, de “estimular”.

- A palavra “exortar” surge, pela vez primeira, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Rm.12:8, quando o apóstolo Paulo nos fala do dom assistencial de exortação, quando manda que quem tem este dom, que o exerça na sua plenitude. O próprio Paulo, em II Co.9:5, mostra-nos que tinha este dom, pois animou os irmãos para fazer o trabalho de coleta para os crentes da Judéia, como também nos informa que Timóteo exerceu este dom ao animar os crentes de Tessalônica que, perseguidos, estavam sem o apóstolo em meio às lutas que sofriam. A este mesmo Timóteo, Paulo aconselhou que persistisse em exortar os crentes (I Tm.4:13). Pedro e Judas, também, disseram, em suas cartas, da necessidade que sentiam, pelo Espírito Santo, de animar e incentivar os irmãos (II Pe.1:12; Jd.3).

- A palavra grega para “exortação” é “paraklesis” (παρακλησις), que é, precisamente, a palavra com que o Senhor Jesus Se referiu ao Espírito Santo, chamado por Ele de “Paráclito”, ou seja, “Consolador”. “Exortar”, portanto, é “consolar”, é “dar ânimo”, é “trazer o Espírito Santo”, é “trazer a consolação” a quem está a ouvir. O verdadeiro e genuíno aconselhamento cristão traz-nos a presença do Santo Espírito, faz-nos sentir o refrigério do Consolador, alegra o nosso coração. A “exortação” não deixa pessoa alguma triste ou revoltada, mas, sim, aliviada pela presença do Espírito Santo.

OBS: “…MAS, aos que se ajoelhavam diante dele, Jesus oferecia (como ninguém jamais ofereceu) palavras de conforto e alento. Jesus conseguia oferecer todo o apoio emocional que as pessoas necessitavam. O homem perfeito. Seu perdão fazia com que as pessoas desejassem tocá-lo e caminhar ao seu lado. Nossa conclusão é de que Jesus era, de fato, um mestre conhecedor da Lei, um rabi com respeito dos religiosos da época e um orador eloqüente... MAS, as multidões não procuravam o mestre, o rabi e o orador. Procuravam o homem de palavras calmas que dizia simplesmente com o olhar: "Eu também não te condeno..." (Jo.8:11). Este perdão que jorra descontrolada e torrencialmente do ensino de Jesus deve ser o mesmo a ser celebrado pela sua igreja hoje espalhada pela face da terra. O perdão àqueles que vêm de fora, desejosos de conhecer o Reino e de despencarem aos pés de Jesus deve ser apresentado sem muitas perguntas pelos seguidores de Jesus. Ele convida os cansados, os oprimidos e os desesperados a se juntarem a ele; e pior ainda: ele não coloca barreiras... (Mt.11:28-29). Também o perdão àqueles que já se encontram caminhando nas ruas do Reino, mas que, por qualquer razão, tenham dado uma escapadinha para o lado de lá do muro não deve ser retido. As falhas de nossos irmãos devem ser olhadas por nós da mesma forma que Jesus as olharia; com misericórdia desmedida.Que fique claro que há pessoas que querem encontrar igrejas de mentira, pessoas que buscam na palavra do pregador aquilo que elas mesmas querem ouvir. Estes podem correr para qualquer estabelecimento que se pareça com um auditório, que tenha um púlpito, alguns instrumentos e uma urna para receber as ofertas. Só não pensem que todos os lugares que se pareçam com uma reunião da igreja sejam DE FATO uma reunião da igreja.Mas há também homens e mulheres que dariam seu último suspiro para se encontrar com aquele filho de carpinteiro que caminhava nas regiões da Galiléia espalhando uma mensagem de misericórdia que arranque as toneladas que se acumulam sobre seus ombros. Não nos importamos com as cores, o tamanho e as letras do rótulo que certamente será colocado nesta caixinha chamada igreja; mas devemos batalhar para que, ao olharem para nós, enxerguem um grupo de onde jorram o amor e o perdão de Jesus. Neste rótulo deve estar escrito: "misericórdia".” (BENTES, Fábio. O rótulo da igreja. Disponível em: http://www.bibliaworldnet.com.br/ Acesso em 29 dez. 2006).

- A “exortação”, pelo que podemos verificar das passagens bíblicas em que ela é mencionada, tem sempre a ver com o estímulo para a nossa fé, é um meio pelo qual vemos nossa fé acrescida e fortalecida, de modo a que possamos persistir nesta batalha espiritual contínua, neste bom combate. Precisamos estar sempre animados, ter bom ânimo para vencer o mundo e o papel da “exortação” é precisamente este. Não se trata, pois, de apenas nos corrigir, para que não percamos a direção do céu, mas de nos fortalecer, de nos dar forças para chegarmos até o fim.

- Por isso, é altamente preocupante o comportamento de muitos que, na atualidade, em vez de “exortar”, de “animar” a fé dos irmãos, querem “agradar a carne”, criando entretenimento, diversão e tudo o que traz conforto à carne e ao corpo, mas nunca à alma e ao espírito. A tendência vivida, hoje, em muitas igrejas locais, é o de criar todo o tipo de espetáculo e de atividades que massageiem o ego das pessoas, que coloquem em realce a auto-estima, a emoção e o sentimento, mas que nada ou muito pouco trazem à alma e ao espírito. É necessário que haja “exortação”, que haja “ânimo para o combate” e não entretenimento ou divertimento. Estamos em igrejas, não em salas de teatro, de show ou de cinema!

OBS: Um querido irmão tem insistido em mostrar que, por causa destas circunstâncias lamentáveis que estamos a viver, estamos presenciando a concretização da “abominação desoladora” de que falou o profeta Daniel em nossas igrejas locais(Dn.9:27;12:11; Mt.24:15; . Somos obrigados a concordar com ele: ainda que a abominação desoladora apontada pelo profeta venha a ocorrer no meio da Grande Tribulação, ela está sendo figurada a cada dia nas atitudes lamentáveis que vêm sendo tomadas com cada vez maior intensidade nas igrejas locais, onde os templos são transformados em salões de baile, em locais de eventos e espetáculos e não mais em locais de adoração a Deus. Nestes lugares, realmente, o espírito do anticristo chegou e fez o seu trono, realizando a abominação desoladora nesta porção do Israel de Deus.

- Outra palavra utilizada para indicar o aconselhamento é “redargüir”, cujo significado é “dar resposta, argumentando”, que vem do latino “redarguo”, que, por sua vez, significa “"refutar, convencer de falsidade, mostrar a falsidade”. Como se pode observar, “redargüir” é dar uma resposta, é responder, utilizando-se de argumentos. Só pode responder quem se lhe fez uma pergunta. Só pode responder quem esteve disposto a ouvir a pergunta. Só pode responder com argumentos quem tem conhecimento, quem sabe os motivos e as razões de uma determinada resposta. Só pode “redargüir” quem satisfaz os requisitos do aconselhamento.

- A palavra “redargüir” somente aparece, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em II Tm.3:16, quando se vê que se trata de uma característica das Escrituras. Elas são proveitosas para “redargüir”, ou seja, somente poderemos responder às indagações que se nos fazem com base na Palavra de Deus. É sintomático que, na atualidade, muitos “aconselhadores cristãos” estejam recorrendo a psicólogos, psicanalistas e tantos outros especialistas para responderem às questões ou para trazerem solução aos problemas apresentados pelas pessoas. Não somos contra a utilização do conhecimento secular, mas jamais devemos deixar de observar, como fez Larry Crabb, citado supra, de que a Bíblia é a base de todo aconselhamento genuinamente cristão. É a Bíblia quem tem a resposta para as indagações do homem e é com base nela que devemos aconselhar as pessoas!

OBS: A situação vivida na atualidade é bem difícil. Os “pastores” têm sido identificados pelo mundo não mais como aqueles que levam a Palavra de Deus aos homens, mas como aqueles que desenvolvem com sucesso “técnicas de auto-ajuda”. Transcrevemos reportagem recente a respeito: “…A nova geração de líderes evangélicos achou um caminho muito mais certeiro e útil de chegar ao coração dos fiéis: o da auto-ajuda. A promessa é a mesma que ofereciam pentecostais e neopentecostais da geração passada: o da felicidade e prosperidade aqui e agora. Só que, para alcançá-las, os novos pastores sugerem outras ferramentas: além da fé, o bom senso; somado à intervenção divina, o esforço individual. ‘O discurso atual dá mais ênfase ao pragmatismo e à pró-atividade do fiel do que ao sobrenatural", avalia o pesquisador da PUC-SP Adilson José Francisco. ‘Em vez de pregar, como fazem algumas igrejas, a libertação de todos os males por meio do exorcismo, por exemplo, esses pastores adotam alguns conceitos da psicologia: para se livrar dos problemas, é preciso uma mudança de atitude, na maneira de ver o mundo", explica o antropólogo Flávio Conrado, pesquisador do Instituto de Estudos da Religião. Um indicativo claro dessa transformação está na comparação da produção literária dos velhos e dos novos pastores. Títulos como A Fé de Abraão ou Estudo do Apocalipse, assinados pelo bispo Edir Macedo, abrem lugar nas prateleiras das livrarias evangélicas para obras com títulos como Jamais Desista!, do pastor metodista Silmar Coelho, ou Vencendo Obstáculos e Conquistando Vitórias, de autoria de Silas Malafaia. Um dos nomes mais conhecidos da Assembléia de Deus, o pastor Malafaia chega a vender, por ano, 1 milhão de DVDs e CDs de pregações de conteúdo motivacional. Em seus discursos, as parábolas bíblicas dão lugar à objetividade de um Lair Ribeiro. Conflito amoroso? ‘Vem cá, minha filha: o sujeito é bonitão e sarado, mas não trabalha nem estuda? Então, fica com o magrinho narigudo que é melhor! Ele pode ser feio mas é trabalhador’, brada o pastor. Perda de emprego? ‘Meu amigo, você ganhava 700 reais e viu abrir uma porta de 300 reais? Mete a cara! Não fica dizendo que Deus está olhando, que vai abrir uma porta melhor... Deus tá vendo o quê, rapaz? Vai trabalhar!’ ‘Os neopentecostais pregam o ‘faça-você-mesmo’, afirma o historiador e especialista em religiões da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Eduardo Bastos de Albuquerque. ‘E, muitas vezes, a técnica funciona. Ao deixar de beber, fumar, brigar dentro de casa e ao passar a trabalhar, o fiel alcança, de fato, uma melhoria de vida.’ Para o sociólogo Ricardo Mariano, da PUC do Rio Grande do Sul, o sucesso do discurso dos novos pastores está diretamente relacionado ao que ele chama de ‘desencanto’ dos fiéis em relação à idéia da ‘barganha’ com Deus proposta pelos antigos pregadores. ‘Há certa decepção com esse discurso fácil de que bastaria dar o dízimo e orar que Deus deixaria todo mundo feliz, vitorioso e saudável’, diz. O sociólogo chama ainda atenção para o fato de que, ao enfatizarem a importância da racionalidade em detrimento da magia, os novos pastores estão mirando um segmento que, embora ainda incipiente, começa a crescer: o dos fiéis de classe média.…” (PEREIRA, Camila e LINHARES, Juliana. Os novos pastores. Veja, edição 1964, 12 jul. 2006. Disponível em: http://veja.abril.uol.com.br/120706/p_076.html Acesso em 28 dez. 2006).

- O aconselhamento não pode ser dado sem que haja base nas Escrituras. Mas, para que seja possível a redargüição, é preciso que tenhamos uma vida de santidade. O apóstolo Pedro diz para que respondermos com mansidão e temor a razão da esperança que há em nós faz-se necessário que, antes, nos santifiquemos a Cristo como Senhor em nossos corações (I Pe.3:15). E aqui reside a dificuldade dos nossos dias: é preciso aprendermos com a Palavra para aconselharmos fazendo uso dela. É preciso nos separarmos do pecado, para sermos aconselhadores. É preciso obedecermos à Palavra, renunciarmos a nós mesmos e termos a Cristo como Senhor em nossos corações, para que o aconselhamento se dê com base nas Escrituras. Para alguns, por isso é mais fácil se tornar um Ph.D. em psicologia, um “expert” em psicanálise, porque isto não o impede de viver como quer, de não se submeter ao Senhor Jesus.

- Como basear o aconselhamento cristão em técnicas de auto-ajuda, se o aconselhamento somente se dá quando a pessoa reconhece que não tem como se ajudar, de que depende de Deus para poder se salvar? Entretanto, um tal “aconselhamento” encontra muitos seguidores na atualidade, porque é exatamente o que querem ouvir os “homens amantes de si mesmo”, aqueles que não sofrem a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoam para si doutores conforme as suas próprias concupiscências, desviando os ouvidos da verdade, voltando às fábulas (II Tm.4:3,4).

- Aconselhamento é, por fim, correção. “Corrigir” é “dar forma correta, ou melhora; pôr em bom estado, em ordem, em boa condição (o que apresenta alguma incorreção ou está em desarmonia com o todo, ou impede o seu equilíbrio e/ou o seu bom funcionamento ou emprego); consertar, endireitar; procurar melhorar ou alterar para melhor a conduta de (alguém ou a sua própria); repreender com severidade; censurar energicamente; aplicar pena, castigo a (alguém ou a si mesmo); castigar(-se), punir(-se)”, palavra que vem do latino “corrigo”, cujo significado é “"endireitar, pôr direito o que está torto, seguir caminho direto ou direito”.

- A única vez em que aparece, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “corrigir” é, também, em referência à Bíblia Sagrada, que é, também, considerada apta a “corrigir”(II Tm.3:16). A palavra grega é “epanorthosis” (επανορθωσις), cujo significado é “correção”, “melhora”, palavra que é composta de “epi”, que significa “sobre” e “orthosis”, que significa direito, ou seja, é “ir para o direito”. Este é o sentido da “correção”, esta, a finalidade do aconselhamento, fazer com que os caminhos errados, tortuosos se endireitem, retirar a tortuosidade (não nos esqueçamos que “pecado” em grego é “hamartia”, ou seja, “tortuosidade) para que haja retidão, para que tudo seja direito. Por isso, devemos sempre nos utilizar da Palavra de Deus, para que haja “a reta justiça”.

- A palavra “correção”, que é bem mais abundante nas Escrituras, tem também a mesma significação. No hebraico, é, no mais das vezes, a palavra “muwcar”, cujo significado é “castigo”, “penalidade”, o que nos faz lembrar da palavra “repreensão”, até porque, no Antigo Testamento, é a “correção” associada ao Senhor (Pv.3:11; Is.26:16; Jr.5:3) ou aos pais (Pv.4:1; 15:5). Em o Novo Testamento, a palavra “correção”, que encontramos em Hb.12:5,7,11 é a palavra grega “paidéia” (παιδεία), cujo significado é “instrução”, “ensino às crianças”, dando-nos explicitamente a figura do pai que instruir, por amor, aos seus filhos.

- Uma vez mais, vemos que o aconselhamento deve sempre ser dado com amor, com um desejo profundo de contribuição para a melhora, para o endireitamento daquele que está sendo aconselhado.

- O aconselhamento, como se pôde observar, é uma aplicação do conhecimento das Escrituras, do amor divino em relação ao próximo, a começar dos nossos irmãos. Exige que tenhamos comunhão com Deus, santidade, exemplo e uma atitude de humildade e de submissão ao Espírito Santo. São qualidades que estão escassas nos dias em que vivemos, mas temos de nos esforçar para tê-las.

- Muitos até conseguem alcançar a condição de aconselhadores. Seus ensinos e palavras ganham notoriedade no meio do povo de Deus. São vistos como pessoas dotadas de uma palavra similar à Palavra de Deus, como ocorreu com Aitofel, nos dias de Davi e de Absalão. Reside aí mais um perigo: o de as pessoas se envaidecerem e de perderem a direção de Deus. Assim como ocorreu seja com Balaão, seja com Aitofel, a vaidade pode levar estes “sábios” à morte. “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mt.16:26-a).

- Vivemos dias em que a vaidade tem tomado conta de muitos sábios que o Senhor tem levantado no meio da Sua Igreja, sábios que, infelizmente, se deixaram levar pela vaidade e que, assim como Balaão e Aitofel, perderam a sua própria vida espiritual. Os falsos mestres caracterizam-se, precisamente, por perverterem a Palavra de Deus e passarem a querer ter discípulos em volta de si, transformando-se em “donos da verdade”, em vez de permanecerem sábios aconselhadores, aqueles que não só dão, como também recebem conselhos, que sabem que o único e verdadeiro Mestre é Jesus Cristo (Mt.23:8). Se mantivermos esta humildade, certamente seremos vasos preciosos nas mãos do Senhor, em meio a um povo que, cada vez mais, tem fome e sede da Palavra de Deus (Am.8:11,12).