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Assembléia de Deus Missão do Brasil - Estudos Bíblicos



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COMUNHÃO DOS SANTOS - A MISSÃO CONCILIADORA DA IGREJA

Cada cristão está em comunhão com Deus e com os demais irmãos na fé.

INTRODUÇÃO

- Prosseguindo a análise das missões e tarefas da Igreja, estudaremos a chamada “missão conciliadora”, ou seja, a promoção da comunhão, que é uma característica essencial do povo de Deus.

- Ao comparar a Igreja com um corpo, o corpo de Cristo, o apóstolo Paulo mostrou que a Igreja é uma unidade, ou seja, um conjunto onde as diversas pessoas se encontram unidas, integradas para um só propósito.

I – O QUE É COMUNHÃO

- A palavra “comunhão” é uma expressão típica da Igreja, tanto que sé é encontrada nas Escrituras Sagradas em o Novo Testamento e, mais especificamente, após a “inauguração” da Igreja a partir do dia de Pentecostes do ano 30. Seu primeiro aparecimento na Bíblia é em At.2:42, na primeira descrição deste novo povo de Deus, quando se diz que os crentes perseveravam na doutrina dos apóstolos e na “comunhão”. É a tradução da palavra grega “koinonia” (κοινωνία). A Bíblia de Estudo Plenitude aponta o significado desta palavra como sendo “compartilhamento, uniformidade, associação próxima, parceria, participação, uma sociedade, um companheirismo, ajuda contribuinte, fraternidade”, dizendo tratar-se de “uma uniformidade realizada pelo Espírito Santo. Em koinonia, o indivíduo compartilha o vínculo comum e íntimo do companheirismo com o resto da sociedade cristã. Koinonia une os crentes ao Senhor Jesus e uns aos outros.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Palavra-chave: comunhão, p.1109) (destaques originais). A Bíblia On-line da Sociedade Bíblica do Brasil, por sua vez, afirma que a comunhão é “associação com uma pessoa, envolvendo amizade com ela e incluindo participação nos seus sentimentos, nas suas experiências e na sua vivência”, “relacionamento que envolve propósitos e atividades comuns”.

- O surgimento da palavra “comunhão” nas Escrituras Sagradas só depois do início da evangelização feita pelos apóstolos é uma demonstração de que se trata de um fenômeno que exige, previamente, a salvação das pessoas. Não há que se falar em “comunhão” se, antes, não se tiver o novo nascimento, ou seja, a visão e a entrada no reino de Deus (Jo.3:3,5). Em Seu diálogo com Nicodemos, o Senhor Jesus deixou bem claro que somente através do novo nascimento se pode ver e entrar no reino de Deus e que quem vê e entra está na luz (Jo.3:21) e para que tenhamos comunhão uns com os outros e com Deus é necessário que andemos na luz (I Jo.1:7).

- A “comunhão” é, portanto, um efeito da salvação, uma conseqüência de termos nos arrependido dos nossos pecados, crido em Jesus como nosso único e suficiente Salvador e, em virtude disso, passado a ter um novo modo de viver, uma nova direção em nossas vidas, (conversão), o que é possível porque somos perdoados dos nossos pecados, tornados justos por Deus (a justificação) e separados do pecado e de seu domínio (a santificação posicional). Antes estávamos longe de Deus mas, pelo sangue de Cristo, chegamos perto (Ef.2:13) e, por isso, passamos a integrar este novo povo, a Igreja, o grupo daqueles “reunidos para fora”. Destarte, passamos a viver separados do mundo mas unidos a Cristo e a Seus irmãos, união esta que é a “comunhão”.

- Esta “comunhão” é “tornar comum”, ou seja, “tornar de todos”, aquilo que somente Jesus Cristo tinha, que era a qualidade de não ter pecado e, portanto, ser um com o Pai (Jo.10:30;17:22). Como Jesus nunca pecou, mantinha, enquanto homem, uma estrita comunhão com o Pai, pois o que faz divisão entre o homem e Deus é o pecado (Is.59:2). Como não havia pecado da parte de Cristo, nada impedia que Ele e o Pai estivessem em plena unidade, fossem um, tivessem comunhão e é por isso que nós, na medida em que cremos em Jesus e temos removidos os nossos pecados, também podemos ter esta mesma comunhão e se realize, assim, o anseio e desejo do Senhor manifestado na Sua oração sacerdotal, de sermos “perfeitos em unidade” (Jo.17:23).

- “Comunhão”, portanto, é passar a compartilhar dos sentimentos, propósitos e desígnios de Deus, é ser “participante da natureza divina” (II Pe.1:4), é ser “vara da videira verdadeira” (Jo.15:4,5). O salvo, ao alcançar a salvação, passa a ter em comum a natureza divina, ou seja, passa a ser santo, a se separar do pecado, a abominá-lo, assim como Deus e a ter os mesmos desejos, pensamentos e sentimentos divinos em suas atitudes, sendo, portanto, um instrumento, consciente e livre, para a manifestação do amor divino para os demais seres humanos.

- Não é coincidência, pois, que Lucas, ao descrever a igreja nos seus primeiros dias, tenha afirmado que se tratava de um povo que perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão, ou seja, a igreja é um povo que, por permanecer nos ensinos dos apóstolos, que são os ensinos de Cristo Jesus, a Palavra de Deus, é um grupo de pessoas que permanece na comunhão, persiste sendo um conjunto de pessoas que compartilha dos mesmos desejos, dos sentimentos e desígnios.

- A comunhão apresenta-se, pois, como a principal característica da Igreja, a sua marca perante a humanidade, a característica indispensável para que o Senhor possa realizar a Sua obra através do Seu povo. Pela comunhão, a Igreja mostra-se como um povo perante os demais seres humanos e, graças a ela, pode cumprir todas as tarefas determinadas a ela. Tanto assim é que o relato de Lucas a respeito da igreja primitiva termina com o cumprimento da principal missão da Igreja: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At.2:47 “in fine”).

- Para que haja comunhão, portanto, é preciso que haja ausência de pecado, não só em virtude da chamada “santificação posicional”, ou seja, a nossa colocação por Deus entre os santos, pelo perdão dos nossos pecados (cfr. Sl.40:2,3), como também em virtude da nossa “santificação progressiva”, ou seja, a nossa contínua separação do pecado no dia-a-dia de nossa vida espiritual (cfr. Ap.22:11). A multiplicação do pecado em nossos dias (Mt.24:14) produz inevitavelmente a diminuição da comunhão e o conseqüente crescimento das divisões, porfias, dissensões e todas as obras pecaminosas similares a estas no meio daqueles que servem a Deus (Gl.5:20; Jd.20).

- A comunhão é o compartilhamento, participação, ou seja, a ação de tomar parte em algo, de se tornar parte de alguma coisa. Quando aceitamos a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, nós nascemos de novo e, ao nascermos novamente, esta nova criatura que surge é um ser que decide ser parte de um corpo, que é a Igreja, que deseja, de livre e espontânea vontade, passar a ser apenas uma parcela, uma parte de um organismo que tem propósitos, sentimentos e vontade determinados pelo Senhor Jesus, que é a sua cabeça.

- Desejar ser parte da Igreja é desejar ser submisso a Cristo, fazer o que Ele manda, tomar a posição e exercer a função que Ele determinar neste corpo. O crente que está em comunhão com Deus é um crente que não escolhe lugar, trabalho, tarefa, mas que se põe onde o Senhor manda, que ocupa o espaço que lhe é reservado no corpo de Cristo, pois tem consciência de que é parte do corpo, que é um “membro em particular” (I Co.12:27), ou, como diz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, “cada um é uma parte desse corpo”.

- A comunhão é a consciência que o crente tem de que é uma “parte desse corpo”, é uma “peça da engrenagem” e que, portanto, deve se relacionar bem com os demais integrantes do corpo, sabendo que todos são necessários, que ninguém é melhor do que ninguém, de que precisamos uns dos outros e que a obra de Deus somente se fará pela união de esforços, de objetivos, propósitos e sentimentos, o que nos será transmitido pelo Espírito Santo, a Quem incumbe nos anunciar tudo o que tiver ouvido e glorificar a Cristo (Jo.16:13,14).

- Comunhão é compartilhamento, é participação e, por isso, é muito mais que uma conjugação de esforços, que uma mistura, que uma adição de pessoas. Muitos têm confundido a comunhão com uma simples mistura, esquecidos de que, na mistura, como nos ensina a química, há “associação de substâncias, distribuídas uniformemente, em processo que deixa intactas as moléculas, resultando num todo homogêneo”, ou seja, apesar de, a olho nu, na mistura, muitas vezes, vermos uma confusão na reunião de pessoas, na associação de elementos, na verdade, cada elemento continua intacto, ainda que isto nos seja invisível. Há um todo homogêneo, mas cada elemento continua diferente, muitas vezes até oposto (aliás, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa considera que um dos significados de “mistura” é, precisamente, “reunião de coisas diversas e/ou opostas”).

- Mistura não é comunhão, pois, na mistura, os elementos permanecem sendo o que eram antes de ser reunidos, antes de ser confundidos, antes de ser dissolvidos, mas, na comunhão, ao contrário, o que se tem é a transformação do elemento em parte de um todo que é uniforme, não apenas a olho nu, mas em essência, em natureza. Por isso, o apóstolo Paulo podia dizer que não mais vivia, mas Cristo vivia nele, porque agora era parte do corpo de Cristo, um elemento que participava da natureza divina, não um ser independente e que se mantinha intacto, intocado por Deus.

- Exemplo de mistura era o “vulgo” que saiu com Israel do Egito (Ex.12:38; Nm.11:4). A palavra hebraica para se referir a esta “mistura de gente” é “`ereb” (עדב), cujo significado é de “material entrelaçado, combinado”, como se fossem as linhas juntadas pelo tricô ou crochê, ou seja, pessoas que haviam estabelecido relacionamentos, que haviam se juntado com o povo de Israel, que pareciam ligados a eles mas que se mantinham intocados por Deus, que não faziam parte do povo de Deus, que não constituíam aquela nação que havia se comprometido a servir ao Senhor. Por isso, mantinham-se alheios aos propósitos divinos, não eram “parte do povo”, mas, sim, uma “mistura”, elementos que se mantinham independentes de Deus, sem qualquer compromisso com Ele. Foram estes que levaram a geração do Êxodo à incredulidade e à morte (Hb.3:19).

OBS: Em Nm.11:4, a palavra hebraica utilizada para designar o “vulgo” é “’aspesuf” (אספסף), que significa “ralé”, “conjunto de pessoas à parte”, a indicar que se tratava de um grupo que não estava unido ao povo, à propriedade peculiar de Deus entre os povos, mas pessoas que se mantinham apartadas da presença de Deus.

- A Igreja é um povo que tem comunhão com Deus e, por ter comunhão com o Senhor, sabe que é apenas uma parte e, por isso, acaba tendo comunhão uns com os outros, pois como temos consciência de que somos “partes”, sabemos que os outros irmãos também são “partes” e, por isso, nos unimos, sabendo que somente com a nossa união, o corpo poderá produzir o que a cabeça exige e determina, pois sabemos que somos “membros uns dos outros” (I Co.12:27 APF). Para que produzamos fruto e o nosso fruto permaneça (Jo.15:16), é fundamental que nos comportemos como “varas da videira verdadeira”, que assumamos a nossa condição de “partes” do corpo de Cristo.

- É importante vermos que o fato de assumirmos a condição de “partes” do corpo de Cristo não significa a anulação de nossa individualidade. Somos “membros em particular” do corpo de Cristo, ou, na expressão trazida pela Nova Versão Internacional, “cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo” (I Co.12:27) ou, na Tradução Brasileira, “individualmente um de seus membros”, o que nos mostra, claramente, que mantemos a nossa individualidade, mas a nossa vida passa a ser vivida em função do Senhor Jesus e de nossa posição no Seu corpo. Não viramos “massa” nem “robôs”, mas, por livre e espontânea vontade, passamos a renunciar a nós mesmos e a fazer a vontade do Senhor (Mt.16:24).

- A comunhão é, portanto, um estado espiritual que deve ser mantido pela nossa submissão ao Senhor Jesus, de Quem nos tornamos participantes (Hb.3:14), participação esta que exige, de nós, a retenção firme do princípio da nossa confiança até o fim, ou seja, que mantenhamos a nossa fé em Cristo Jesus até o instante de nossa morte física ou do arrebatamento da Igreja, se estivermos vivos até lá. Comunhão se faz, portanto, mediante a submissão nossa a Cristo, através da manutenção da nossa fé.

- Vemos, pois, que a associação que se fez entre a comunhão e a participação na ceia do Senhor é apenas uma figura da comunhão e não ela mesma, como, infelizmente, alguns consideram, ainda sob o influxo dos ensinos sacramentalistas surgidos no seio do romanismo. Não há dúvida de que a ceia do Senhor é uma declaração de que estamos em comunhão com Deus (o que é representado pelo vinho, símbolo do sangue que nos fez chegar perto de Deus) e com os nossos irmãos (o que é representado pelo pão, símbolo do corpo de Cristo, ou seja, da Igreja) (I Co.10:16). No entanto, o simples ato de participar da celebração da ceia não é prova da comunhão nem nos traz comunhão, mas é uma declaração de que estamos em comunhão. A comunhão vem de nossa vida espiritual de submissão a Deus, de conscientização de que somos “parte do corpo de Cristo” e que estamos “separados do pecado” desde o dia em que aceitamos a Cristo e fomos purificados pelo Seu sangue, que continua a nos purificar, dia após dia, se nos mantivermos em santidade.

- Tanto assim é que os que participam da ceia do Senhor sem ter esta vida de comunhão com Deus estão selando a sua própria condenação, porque estão a mentir, a faltar com a verdade, a não discernir o corpo do Senhor, a não compreender o que é a Igreja, o que é ser salvo, o que é ter comunhão com Deus e com o Seu povo (I Co.11:29,30).

II – A UNIDADE DECORRENTE DA COMUNHÃO

- Visto o que é a comunhão e sua necessária presença na Igreja, que é o único povo sobre a face da Terra que teve perdoados os seus pecados e, assim, chegou perto de Deus pelo sangue de Cristo, devemos verificar quais os seus efeitos em relação à Igreja.

- O primeiro efeito da comunhão estabelecida pela salvação é, como nos mostra o apóstolo Paulo, na epístola aos Efésios, a consciência da vocação, ou seja, do chamado de cada um. Quando verificamos que somos “parte do corpo”, procuramos descobrir “que parte” somos, onde o Senhor nos quer pôr, a fim de que contribuamos para o crescimento da Igreja e para o desempenho das tarefas. A consciência da vocação, do chamado (Ef.4:1) é fundamental para quem vive em comunhão.

- Como as igrejas locais têm sofrido porque não há a busca desta consciência da vocação por parte dos crentes. Muitos têm procurado estabelecer o seu lugar na igreja local através de sua posição social, de sua situação econômico-financeira, de sua escolaridade, de seu parentesco, de seu tempo de filiação. Transformam a igreja local em um grupo social qualquer, em uma instituição onde todos estes fatores são determinantes para o estabelecimento de posições, de relacionamentos entre os integrantes.

- No entanto, quando temos comunhão com Deus, sabemos que somos parte do corpo de Cristo e que, assim sendo, temos um lugar que é determinado pelo Senhor e que devemos ocupá-lo para fazermos a vontade de Deus. Não adianta querermos ser algo que o Senhor não quer que sejamos. Não adianta queremos agradar a A ou a B e sermos aquilo que o Senhor não quer que sejamos. Na Igreja, para estarmos em comunhão, é preciso estarmos no lugar determinado pelo Senhor, ter a plena consciência da nossa vocação, da nossa chamada.

- Há uma tendência a vincular o assunto “chamada” com o ministério, ou seja, com o exercício de atividades pastorais, o que, porém, não é correto. Todos nós fomos escolhidos por Cristo para pertencermos à Sua Igreja (Jo.15:16a) e a cada um o Senhor tem dado um determinado papel, uma determinada atividade, por mais simples que ela seja. Lembremo-nos de que, na parábola dos talentos, ninguém ficou sem receber ao menos um talento. Por isso, é imperioso que tenhamos consciência de nossa vocação, pois este é o primeiro fator a nos mostrar que estamos em comunhão.

- O segundo efeito da comunhão é o andar digno da vocação com que se é chamado (Ef.4:1). A partir do instante que temos consciência de que fomos chamados por Deus e de que lugar é necessário ocupar na igreja local, devemos nos comportar de modo a sermos dignos deste chamado. Assim, não somente devemos andar em santidade, separados do pecado, como também conforme o chamado que recebemos do Senhor. Dependendo de nossa posição na casa do Senhor, portanto, devemos exercer nossas atividades e nos dedicar a algumas tarefas, sempre com o propósito de servirmos a Deus. Um músico, por exemplo, deve se dedicar ao estudo de seu instrumento, enquanto que aquele que é professor da EBD, deve se esmerar no estudo da Palavra de Deus e assim por diante.

- Se cada um andar como é digno da vocação com que se é chamado, a igreja demonstrará uma unidade e um ajuste que o resultado não será outro senão o crescimento e a edificação em amor (Ef.4:16). Em muitos lugares, como há luta por espaços, como há verdadeiras batalhas e lutas entre os “irmãos” para determinadas funções e posições, o resultado é tão somente o esfacelamento do grupo social, as divisões, as pelejas, o escândalo que arruína a vida espiritual de muitos e proporciona apenas morte e tristeza. Tem-se nesta indignidade de andar um espaço aberto para a rebelião, que a Bíblia equipara ao pecado de feitiçaria(I Sm.15:23), ou seja, tem-se a atuação direta do inimigo e das hostes espirituais da maldade em lugares onde deveria estar a presença de Deus. Não nos esqueçamos da rebelião de Datã, Abirão e Corá e de seus nefastos efeitos! (Nm.16:1-35).

- Cada um deve ter consciência de seu papel e exercê-lo na direção do Espírito Santo, não almejando aquilo que não lhe pertence e, dentro de seu papel, ajudando a todos quantos estão a exercer outras funções, igualmente importantes e das quais se necessita para o pleno desempenho de seu papel, pois todos são “parte do corpo”. Não somos apenas “tricotados” na igreja local, não temos caminhos próprios, não temos “carreiras eclesiásticas”, mas somos membros uns dos outros.

- Para andar como é digno da nossa vocação, o apóstolo Paulo nos diz que devemos andar com humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor (Ef.4:2). Precisamos ser humildes, ou seja, não só nos colocarmos debaixo da potente mão de Deus (I Pe.5:6), reconhecendo a nossa pequenez diante de Deus e nos submetendo à Sua vontade, negando-nos a nós mesmos (Mc.8:35; Lc.9:23), como também considerando os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3). Uma das provas da comunhão com Deus é um comportamento que evita o “estrelato”, os “holofotes”, a “super-exposição”. Um dos grandes adversários dos crentes tem sido a fama, o prestígio adquirido com o sucesso na obra do Senhor. Muitos têm caído na mesma armadilha do rei Uzias e, lamentavelmente, envaidecem-se a tal ponto que a soberba lhes domina e acabam caindo da graça, humilhados publicamente por causa do pecado cometido, visto que aquele que se exalta, será humilhado (Lc.18:14).

- A comunhão faz-nos que sejamos mansos. A mansidão, uma qualidade do caráter de Cristo Jesus, assim como a humildade (Mt.11:29), é uma das qualidades do caráter gerado pelo Espírito Santo na nova criatura (Mt.5:5; Gl.5:22). Ser manso é ser brando na maneira de se expressar, doce, meigo, suave. Ter autocontrole para se relacionar com as pessoas não as magoando, respeitando seu modo de ser, de modo tranqüilo, sereno, sem agitação. O salvo tem de ser manso, notadamente quando for indagado a respeito da razão da esperança que tem (I Pe.3:15). Nos dias em que vivemos, é fundamental que nos mostremos mansos, que não sejamos impiedosos e ferozes como eram os fariseus nos tempos de Jesus.

- A comunhão faz-nos que sejamos, também, longânimos, ou seja, que tenhamos “longo ânimo”, que sejamos pacientes, que tenhamos condições de suportar as diferenças dos outros, a fraqueza espiritual de muitos, a dureza de coração de tantos outros. Ser longânimo é suportar com firmeza contrariedades, malogros, fracassos, dificuldades em benefício de outrem. É ter em vista as coisas sublimes e realmente importantes e não se prender a coisas de somenos importância, que a nada leva a não ser à discórdia, ao escândalo e à morte espiritual.

- A comunhão põe em prática o amor divino que nos foi derramado pelo Espírito Santo (Rm.5:5). Quando estamos em comunhão, passamos a suportar os demais irmãos em amor, ou seja, não é que “façamos força para engolir o irmão A ou B”, mas, por amor, por saber que aquele irmão foi salvo por Jesus, tem grande valor para Deus, nós aceitamos as contrariedades que ele nos provocou, com prazer e resignação, porque nós o amamos e este amor não é resultado do bem que nos fez, mas, sim, um amor incondicional, desinteressado e gratuito.

- O terceiro efeito da comunhão é a “unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef.4:3), unidade esta que é descrita pelo apóstolo como sendo a circunstância de termos “um só corpo e um só Espírito, chamados em uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef.4:4-6).

- Ser um só corpo, como vimos, é resultado de cada um ter a consciência de que é “parte do corpo de Cristo”. Esta consciência faz com que não só saibamos o que fazer na igreja local, como a própria igreja local tem noção de que representa na igreja universal. Paulo demonstrou esta consciência à igreja em Corinto, que, aliás, carecia dela (I Co.3). Como é triste verificarmos que muitos se acham “proprietários das chaves dos céus”, de que só a sua denominação ou o seu ministério é que tem condições de levar alguém para a vida eterna, como também aqueles que, por insubmissão e rebeldia, resolvem “afundar” as suas igrejas, sem qualquer direção divina, mas única e exclusivamente por vaidade, quando não por ganância.

- Ser um só corpo não significa, em absoluto, que a igreja deva ter apenas uma organização humana, deva ser uma única instituição, como tem sido preconizado pelo chamado “movimento ecumenista”, capitaneado pela Igreja Romana notadamente após o Concílio Vaticano II, que se encerrou em 1965, mas, sim, que a igreja universal é única, o único corpo de Cristo, uma nação espiritual que, entretanto, comporta, sim, uma multiformidade, ou seja, uma multiplicidade de formas e de organizações, até porque, pela igreja é que se faz conhecida a multiforme sabedoria de Deus (Ef.3:10).

- Ser um só corpo, porém, exige de cada salvo a consciência de que somos todos “parte do corpo”, ou seja, de que precisamos trabalhar, todos, sem exceção, em harmonia, sem choques, sem disputas, sem dissensões. Este é o verdadeiro “espírito ecumênico”, esta é a verdadeira “unidade do corpo de Cristo”. Precisamos reconhecer que cada um, ao modo determinado por Deus, está na face da Terra para realizar a obra de Deus e que, cada um fazendo a sua parte, o que não se pode fazer de forma solitária ou individualista, mas mediante a união de um em relação aos outros, o Senhor também cooperará e confirmará a Palavra com os sinais (Mc.16:20).

- Entretanto, o espírito de competição e de concorrência, que domina o sistema econômico mundial, também chegou à Igreja, que, infelizmente, convive, na atualidade, com um verdadeiro “mercado religioso” ou um “mercado da salvação”, uma disputa por crentes e por fiéis que está aumentando a cada dia. Tudo isto é perda de comunhão com Deus, é falta completa da consciência de que há um só corpo e que todos devem se completar uns aos outros para que haja um verdadeiro e genuíno crescimento ajustado da Igreja.

- Ser um só Espírito significa que devemos seguir uma só orientação e direção, a direção do Espírito Santo, a Pessoa divina que o Senhor Jesus nos enviou para não nos deixar órfãos, para nos guiar, ensinar e anunciar tudo o que tiver ouvido (Jo.16:13-15). O Espírito Santo é Deus e, como tal, devemos prestar-Lhe irrestrita obediência, buscando sempre a Sua orientação para todas as tarefas que iremos desempenhar. Paulo, mesmo tendo sido chamado e separado para pregar o evangelho aos gentios, não ousava pregar o Evangelho sem a devida direção e orientação do Espírito Santo (At.16:1-10). Os apóstolos, mesmo tendo postos pelo próprio Jesus para liderar a igreja, não ousaram tomar qualquer decisão no concílio de Jerusalém sem antes saber qual era o parecer do Espírito Santo (At.15:28).

- A comunhão leva-nos a ser sensíveis à voz do Espírito Santo, que é uma característica que sempre deve existir na Igreja (Ap.2:7,11,17,29; 3:6,13,22). Ouvir não é ter orelhas, pois, mormente nos dias em que vivemos, muitos têm orelhas, mas não ouvem o Espírito Santo, preferindo antes amontoar para si doutores conforme as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3,4). Ser um só Espírito é estar atento ao que o Espírito Santo diz e o que o Espírito Santo diz é o que está na Palavra de Deus, na Bíblia Sagrada, visto que a Palavra é a espada do Espírito (Ef.6:17) e o Espírito tem por função glorificar a Cristo, que é a Palavra de Deus (Jo.1:1).

- Só há um Espírito Santo, que é completo e, por isso, não se pode permitir que outros espíritos venham a ter lugar nas igrejas locais, inclusive seres angelicais. Há um só Espírito, um Espírito que é completo (daí a expressão “setes espíritos de Deus” – Ap.3:1, que representa plenitude) e que, portanto, não deixa espaço para qualquer outro ser em Suas tarefas.

- Há uma só esperança de vocação. A comunhão, além de gerar a consciência do chamado de cada salvo, dá a cada membro da Igreja a mesma esperança. Todos estamos esperando Jesus. Todos estamos esperando a glorificação dos nossos corpos para que desfrutemos a eternidade com o Senhor. A Igreja tem esta esperança e, por causa dela, dia após dia se purifica a si mesma, sabendo que o Senhor é puro e que somente os limpos de coração verão a Deus (I Jo.3:3; Mt.5:8). Santificar-se, i.e., separar-se do pecado, não se envolver com as coisas desta vida, não ajuntar tesouros nesta terra, são características de quem tem comunhão com Deus, que pensa nas coisas que são de cima e não nas que são da terra (Cl.3:1,2).

- A comunhão mostra-nos, com clareza, onde está a nossa esperança, em quem e o que devemos esperar. Quem tem comunhão com Deus comporta-se como peregrino nesta Terra (Sl.119:19), a exemplo de Abraão, o pai da fé (Gn.23:4) e dos demais heróis da fé (Hb.13:13-16). Quando vemos pessoas que se dizem servas do Senhor mas que estão completamente envolvidos com as coisas desta vida, podemos notar que são pessoas que partem rapidamente para a morte espiritual, se é que já não a alcançaram (Mt.13:22).

- Há um só Senhor, ou seja, a Igreja tem uma única cabeça, o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele é o Sumo Pastor (I Pe.5:4). Quando estamos em comunhão com Deus, temos esta consciência de que somos servos e que há um só Senhor. Na Igreja, todos sabem que não são melhores do que os outros e que os maiores existem para servir os menores (Mt.20:26; Mc.10:43). Os falsos mestres, falsos profetas e falsos apóstolos procuram arrebanhar pessoas à sua volta, procuram criar subterfúgios e falsos ensinos para fazer valer a sua “autoridade” sobre os crentes, por intermédio de “novas unções”, “coberturas apostólicas” e coisas desta natureza, que nada mais são do que enganos e provas de que são pessoas que estão fora da comunhão do Senhor. Há um só Senhor e não há qualquer mediador entre Deus e os homens, a não ser Jesus Cristo homem (I Tm.2:5).

- Por isso, a comunhão com Deus impede o mercenarismo, a simonia, ou seja, o amor ao dinheiro. Com efeito, como ensina o Senhor Jesus, não se pode servir a dois senhores: ou se serve a Deus ou se serve às riquezas (Mt.6:24; Lc.16:13). Como, na “koinonia”, há um só Senhor, vemos que não é possível estar em comunhão com o coração nos tesouros desta terra (Mt.6:19,21). Vemos, pois, quão longe da genuína e autêntica Igreja estão os falsos mestres, movidos pela ganância, pela avareza e enxergam no povo de Deus só uma forma de fazer negócios, de enriquecimento (cada vez mais fácil, aliás) (II Pe.2:1-3).

- Há uma só fé, ou seja, a verdadeira fé, a única fé é aquela que é nascida pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), que testifica de Jesus Cristo (Jo.5:39). A comunhão faz com que tenhamos fé apenas em Jesus, ou seja, na Sua Palavra, abandonando, assim, as fábulas, as crendices, as superstições, os pensamentos filosóficos e científicos. Muitos têm se apartado da simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3), sendo enganados pelo adversário de nossas almas e passando a crer em tudo menos na Palavra de Deus. Entretanto, a fé é única e sem esta única fé não poderemos, de modo algum, alcançar a salvação e, conseqüentemente, a comunhão (Ef.2:8).

- Há um só batismo, ou seja, somente se ingressa no corpo de Cristo por intermédio do novo nascimento, da operação do Espírito Santo na vida daquele que, convencido pelo Espírito Santo, arrepende-se dos seus pecados e passa a viver uma nova vida na fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Este batismo a que Paulo se refere não é nem o batismo nas águas, nem o batismo com o Espírito Santo, mas o batismo por ele próprio mencionado em I Co.12:13, ou seja, o ingresso no corpo de Cristo através da regeneração, da salvação. Ninguém pode entrar no reino de Deus a não ser nascendo da água e do Espírito (Jo.3:5), i.e., crendo na pregação do Evangelho e sendo convencido pelo Espírito Santo.

- Isto é muito importante porque, nas igrejas locais, há muitos que ali estão não porque foram “batizados em um Espírito” nem tampouco porque tenham nascido de novo, mas que estão a pertencer ao grupo social por tradição familiar, por simpatia ou, mesmo, por religiosidade, quando não, como tem sido cada vez mais freqüente, por interesses materiais. Estes não estão em comunhão, porque só há um batismo, só há uma forma de se ingressar no corpo de Cristo, e esta forma exige a fé na Palavra e o convencimento do Espírito Santo, ou seja, o novo nascimento.

- Lamentavelmente, há muitos que acham que podem entrar no céu pela janela, mas a única entrada possível é pela porta, que é o próprio Jesus (Jo.10:9), Aquele que é pregado na Palavra e que o Espírito Santo trabalha para que seja glorificado. Quem não entra pela porta, é ladrão e salteador (Jo.10:8). Não há, pois, como se ingressar no reino de Deus a não ser pelo sangue de Cristo vertido na cruz do Calvário (Ap.22:14).

- Há um só Deus e Pai de todos, O Qual é sobre todos, e por todos e em todos. A comunhão traz-nos também a certeza de que há um só Deus e Pai de todos, ou seja, pela comunhão sentimos o amor de Deus por nós e Seu cuidado paternal a cada um de nós. A “koinonia” faz-nos ter a consciência de que somos filhos de Deus, de que fomos feitos filhos de Deus e que isto não é um merecimento nosso, mas fruto da graça divina, da Sua infinita misericórdia. Por isso, nossa comunhão é com o Pai e com o Filho (I Jo.1:3 “in fine”).

- A comunhão da Igreja leva-nos a ver a cada irmão como filho de Deus, como alguém dotado de uma posição privilegiada na ordem cósmica, como alguém que é fruto do amor divino e que, por isso, tem de ser considerado, respeitado e dignificado. É Deus de todos, ou seja, não faz acepção de pessoas e considera a todos os salvos igualmente. Além do mais, a comunhão faz-nos perceber que Deus está sobre todos nós, ou seja, é soberano, Alguém que deve ser objeto de adoração e obediência; que Deus está por todos, ou seja, que Ele sempre está trabalhando a nosso favor, é um Deus que intervém na criação, que não nos abandona e um Deus que está em todos, ou seja, que habita em cada salvo.

- Como, então, sermos parciais na Igreja? Como tratarmos bem alguns e não outros? Como fazer acepção, como, aliás, desde a igreja primitiva, ocorria, como vemos registrado na carta do apóstolo Tiago, ele próprio pastor da igreja em Jerusalém (Tg.2:1-13). Tal comportamento demonstra que não se está em comunhão com o Senhor.

- Vemos, pois, que quem nega a divindade de Jesus, quem nega Sua condição de Filho de Deus não pode estar em comunhão com o Pai e, portanto, não pertence à Igreja de Deus. Reconhecer a Deus como Pai é “ipso facto” reconhecer a Jesus como o Filho, pois quem nega o Pai, nega o Filho. Eis, pois, um importante fator de identificação do povo de Deus, que tem comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo (I Co.1:9; II Co.13:14; i Jo.1:3).

III – A DIVERSIDADE DECORRENTE DA COMUNHÃO

- A comunhão não significa, porém, uniformidade, ou seja, não se exige que todos os salvos tenham, em todos os lugares e em todas as épocas, a mesma forma, a mesma maneira, o mesmo jeito de servir a Deus. Muito pelo contrário, a comunhão proporciona a união, que é a qualidade de ser um, mediante a unidade na diversidade. Como disse o apóstolo Paulo, no trecho que estamos a analisar, na Igreja, temos a “unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef.4:3).

- Ora, se existe um vínculo (em grego, a palavra é “sundesmos” – σύνδεσμος), é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres. Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos unimos ao Senhor e à Sua Igreja.

- Esta é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.

- Todos são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.

- A Bíblia mostra-nos que o Espírito Santo é um só, é o mesmo, mas atua por intermédio de diversas atuações (I Co.12:4-6), a confirmar, pois, que, no corpo de Cristo, como em qualquer corpo, embora se tenha uma unidade, existem elementos que diferem uns dos outros, mas cujas diferenças, além de necessárias, servem para reafirmar a unidade do corpo. Esta aparente contradição é encontrada na raiz da própria palavra “igreja”, que, como sabemos, é o conjunto dos “reunidos para fora”. Por estarem reunidos, trata-se de um corpo, de uma unidade, mas por serem indivíduos que foram postos “para fora”, não são uma massa uniforme, um agregado de mesmices, mas pessoas que estão “fora”, ou seja, que foram “apartadas”, “afastadas” de outras, que continuam sob o domínio do mal e do pecado. Por isso, são “diversas”, pois a palavra “diversa” tem origem no latino “diversus”, que significa precisamente “apartado”, “separado”.

OBS: Lembramos que a palavra grega para “diversidade”, em o Novo Testamento, é “diairésis” (διαίρεσις), cujo significado é o mesmo, ou seja, “variedade” no sentido de “distribuição, divisão, separação”.

- A sabedoria de Deus é “multiforme” (Ef.3:20), assim como é “multiforme” a Sua graça (I Pe.4:10), de modo que não podemos, de forma alguma, exigir que todos os salvos tenham a nossa mesma “forma”, o nosso mesmo “jeito”. Identificamos um salvo não pela sua aparência, não pelo seu modo de servir a Deus, mas, sim, com o “olhar de Barnabé”, i.e., verificando se, no grupo social que encontramos, naquela igreja local com que nos deparamos, há a “graça de Deus” e o “propósito do coração para permanecer no Senhor” (At.11:23).

- A unidade do Espírito é feita, como vimos supra, pela existência de um andar digno da vocação do Senhor, com humildade, mansidão e longanimidade, pela presença de um só Espírito, de uma só esperança, de um só Senhor, de uma só fé, de um só batismo, de um só Deus e Pai de todos. Havendo estas características no meio de um certo grupo de pessoas, devemos reconhecê-la como parte da Igreja e nos unirmos a ela com o “vínculo da paz”, ou seja, devemos viver em harmonia com este grupo, dedicando-nos a servir a Deus da nossa forma, atendendo à nossa vocação, enquanto aquele grupo também o faz do modo determinado pelo Senhor a eles. Não podemos contender nem lutar com eles, mas cada qual, pelo vínculo da paz, fazer o trabalho que é o mesmo: o da pregação do Evangelho e preparação dos salvos para a volta do Senhor.

- Um reino dividido contra si mesmo é devastado, como ensinou o Senhor Jesus (Mt.12:25,26). Por isso, o adversário de nossas almas tem conseguido causar grande prejuízo à obra de Deus porque consegue criar, no meio do povo de Deus, o espírito de divisão, o ânimo da competição, gerando brigas, disputas e lutas entre quem deveria ser irmão. Este espírito faccioso tem origem diabólica (Tg.3:15,16), gerando tão somente perversão e animalidade. Fujamos, pois, de tal comportamento, buscando estar debaixo da mão potente de Deus, em comunhão com Ele e com o Príncipe da Paz, pois temos paz com Deus (Rm.5:1) e, enquanto depender de nós, devemos ter paz com todos os homens (Rm.2:13), o que significa termos, sempre, paz com os irmãos (I Ts.5:13).

OBS: Neste sentido, devemos concordar com a expressão cunhada na Constituição dogmática Lumen Gentium, o principal documento doutrinário do Concílio Vaticano II, que ora transcrevemos: “…o Espírito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a ação, para que todos, pelo modo estabelecido por Cristo, se unam pacificamente em um só rebanho sob um único Pastor.…” (LG. nº 15). Também, no decreto “Unitatis Redintegratio”, o principal documento do Ecumenismo na Igreja Romana, verdadeira é a afirmação que ora se transcreve: “…Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e andam por caminhos diferentes, como se o próprio Cristo estivesse dividido. Esta divisão, sem dúvida, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e se constitui em escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura…”(UR, nº 1).

- Desta maneira, não podemos ser “sectaristas”, ou seja, entendermos que só o nosso modo de ser é o correto, que somente podemos servir a Deus da maneira como o fazemos, dentro dos costumes, tradições e modo de pensar do grupo, ministério, convenção ou denominação a que pertencemos. O sectarismo leva à intransigência, à intolerância e vemos que, quem está em comunhão com Cristo, é longânimo, ou seja, paciente, tolerante, suporta a todos em amor (Ef.4:2). O sectarista não tem o Espírito de Deus mas é movido pelo espírito faccioso, que, como vimos, não tem origem em Deus.

- Isto não significa, por óbvio, que sejamos tolerantes com o pecado, pois a longanimidade de Deus está relacionada com o pecador, jamais com o pecado (Ap.21:27), que o Senhor abomina e jamais aceita, visto que é um ser santo.(Lc.11:44; I Pe.1:16). Temos um só Senhor, que é santo e a comunhão com Deus, como sabemos, é conseqüência da remoção dos nossos pecados. Aliás, quem diz que está em comunhão com Deus e vive pecando, não pratica a verdade (I Jo.1:6). Evidentemente, pois, não podemos consentir com o pecado nem praticá-lo, mas daí a ser sectarista há uma grande distância, distância que, infelizmente, muitos não têm sabido observar. O sectarismo leva ao farisaísmo, que é abominável ao Senhor Jesus (Mt.23).

- A unidade na diversidade, a diversidade com unidade permite que se tenha a paz entre os irmãos, entre os membros do corpo de Cristo e o resultado disto é o crescimento bem ajustado de todo o corpo em amor (Ef.4:15,16). O vínculo da paz permite que cada um exerça a função para a qual foi chamado, que cada grupo cumpra o seu propósito para o Senhor e, como conseqüência disto, há uma operação conjunta, há um desenvolvimento da obra de Deus, o seu crescimento em amor, pois o amor é o “DNA” do povo de Deus.

- Fala-se muito em crescimento de igrejas na atualidade, havendo dezenas, senão centenas de estratégias, de modelos, de visões e de mecanismos para o crescimento da Igreja. No entanto, o único modelo, estratégia, visão e mecanismo a funcionar é o crescimento em Cristo, que é a cabeça, mediante o seguir da verdade em amor (Ef.4:15). Quando estabelecemos a “unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, o resultado só pode ser o crescimento da Igreja, seja em quantidade, com o agregar daqueles que se hão de salvar, seja em qualidade, mediante a maturidade espiritual dos salvos.

- O Salmo 133 revela esta realidade. Ao falar da vida em união que deve haver entre os irmãos, o salmista revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente; somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite); somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom); somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (Jo.15:5,6; Ef.1:3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre” (Sl.133:3 “in fine”).

- Para sermos unidos é preciso estarmos integrados em Cristo, ou seja, termos o absoluto comando da cabeça, do Senhor Jesus. Somente quando renunciamos a nós mesmos, de modo consciente e voluntário, sem perdermos nossa individualidade, mas a submetendo à vontade do Mestre, poderemos propiciar o crescimento da Igreja em amor. Por isso, o ilustre comentarista denominou esta missão da Igreja de “missão conciliadora”, pois se trata de “conciliarmos”, ou seja, “entrarmos em acordo”, “fazermos aliança”, “harmonizarmos”, “unirmos os sentimentos” com Deus. Na comunhão, tornamos real e concreto em nossas vidas o desejo expresso pelo Senhor na oração que nos ensinou: “seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. Ao promover a comunhão com Deus e uns com os outros, tornamos realidade e fato a vontade de Deus na Igreja, por nosso intermédio.

- A comunhão dos santos é fundamental para que a Igreja desempenhe as suas tarefas. É, aliás, uma de suas missões a construção e a manutenção desta comunhão, missão que não é apenas das lideranças, nem tampouco dos ministros, mas de cada crente em particular. Somente quando tomamos consciência do que significa ser “parte do corpo de Cristo”, de sermos “varas da videira verdadeira” é que poderemos, com êxito, fazer tudo aquilo que nos está proposto pelo Senhor. Estamos a perseverar na comunhão do Senhor?